4.12.10


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LITERATURA

F.  Littérature   I.  Literature 
   A palavra "literatura" pro­vém do latim litterae, que significava "belas-letras". A literatura não existia antes de se conhecer a escrita, mas nem tudo que está escrito é literatura. Um texto escrito só pode ser qualificado de literário"1 se o autor se dirige ao espírito, à sensibilidade, à imaginação de seus leito­res. O escritor maneja os vocábulos com tanto cuidado quanto o pintor os seus pincéis.
A literatura adota múltiplas formas: narrativas ern prosa, poemas, peças de teatro, ensaios, obras históricas, filosófi­cas, biografias, romances, descrições. Certas narrativas são breves, outras bas­tante longas para encher livros inteiros. Em geral, as longas histórias são roman­ces. O tamanho dos poemas também va­ria; alguns, muito longos, celebram a gló­ria de grandes homens ou feitos heróicos: são os poemas épicos. As peças de teatro podem ser trágicas ou cómicas. Uma farsa c uma comedia muito leve e engra­çada.
Todo país civilizado tem a sua litera­tura. Quando se estudam línguas estran­geiras, é em parte para poder ler no texto original a literatura de outros países.
Antes da invenção da imprensa, a boa literatura só estava ao alcance de um público muito restrito. No presente, to­dos os que sabem ler podem conhecê-la.
Na literatura, os gostos mudam às vezes de uma época a outra; os contempo­râneos de um autor não o apreciam unani­memente. Por outro lado, o autor nem sempre consegue transmitir aquilo que de­sejaria. Mas a boa literatura resiste à pro­va do tempo. As obras antigas que ainda são lidas com prazer denominam-se ''clássicas".
Algumas obras literárias são tão notá­veis que os homens ainda as lêem com prazer centenas ou mesmo milhares de anos após a sua criação. A Ilíada c a Odis­seia datam da época dos antigos gregos. Tal é, também, o caso de certas fábulas de Esopo. Shakespeare, um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, viveu no século XVI e começo do século XVII; entre os escritores franceses clássicos, po­demos citar Molière, Racine e Corneille. Entre as obras-primas do passado, muitas tomaram, com o tempo, uma signi­ficação diferente daquela que o autor lhes havia dado. Muitos livros adaptados para a juventude eram, inicialmente, destinados aos adultos: os contos, por exemplo, ou, num género diferente, As Viagens de Gulliver, que Jonathan Swift criara como uma sátira política.


LITERATURA BRASILEIRA
Nossa li­teratura teve início com as narrativas sobre a descoberta do Brasil, logo seguidas dos relatos dos catequistas religiosos que para cá vieram. Os primeiros documentos de que há notícia são a famosa carta de Pêro Vaz de Caminha e, em 1531, o Diário de Pêro Lopes de Sousa. Ainda no século XVI, ocupam-se da terra brasileira, e de gente que aqui vivia, Gândavo, Fernão Cardirn, Gabriel Soares de Souza e Am-brósio Fernandes Brandão, de quem se admite a autoria dos Diálogos das Grande­zas do Brasil. Entre os jesuítas, sobressai a figura do Padre José de Anchieta. Já no século XVII desponta o sentimento nati-vista e, com este. ganha alento a nossa autentica literatura. Frei Vicente de Sal­vador (Vicente Rodrigues Palha), baiano, escreveu a sua História da Custódia do Brasil, impressa em Portugal; outro baiano, Gregório de Matos, a mais forte personalidade literária da época, com sua poesia satírica escandaliza e intimida os poderosos. No século XVIII, amadurece o movimento nativista e surgem as acade­mias literárias: a dos Esquecidos, a dos Renascidos, a dos Felizes e, por fim. a Sociedade Literária, fundada em 1786 por Silva  Alvarenga.   Destacam-se  Rocha Pita, Cláudio Manuel da Costa, José Gama, Santa Rita Durão. Alvarenga Pei­xoto e Silva Alvarenga. Na primeira me­tade do século XIX surge o Romantismo, impulsionado pelo entusiasmo de Gonçal­ves de Magalhães. Os poetas líricos estão no apogeu.
Já no fim do século ganha corpo o movimento parnasiano, que aspira às cul-minâncias da beleza na forma do verso. Na ficção, o naturalismo atrai adeptos. Há uma tendência geral de renovação, que vemgeraroneoparnasianismo, o realismo, o simboiismo e, por fim, já no século XX. o modernismo, que aparece em São Paulo e se estende ao Rio, causando escândalo e fortes críticas, entre 1922 e 1925. Vem a reação contra essa corrente e, de 1928 a 1940, surgeopós-modernismo, a literatura que procura transmitir uma mensagem, antes de tudo. Na poesia, depois da ÍI Grande Guerra, aparece o concretismo, mas não logra despertar mais do que sim­ples curiosidade. A tendência geral busca a
simplicidade da forma, a musicalidade dos versos, a linguagem acessível, embora al­guns poetas ainda cultivem temas herméti­cos — de compreensão difícil ou mesmo impossível ao leitor. No romance, no conto, na novela, no teatro, predominam os temas sociais e políticos, assim como os de fundo psicológico. Memórias, biogra­fias, ensaios, temas económicos e de polí­tica internacional ganham leitores a cada dia.
Entre os parnasianos e realistas, deve-se ressaltar Machado de Assis, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho, Coelho Neto. Os símbolistas são representados por Cruz e Souza, e Alphonsus de Guima­rães. O regionalismo brasileiro, após a Semana da Arte Moderna (1922), trouxe grandes obras e autores, como Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Jorge Amado, José Lins do Rego, Guimarães Rosae, de certo modo, Mário de Andrade. Modernistas mesmo, além do citado Má­rio, há que referir Oswald de Andrade, Marques Rebelo, Augusto Meyer. Con­temporâneos ou quase, citemos Clarice Líspector, Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmidt, Afonso Schmidt, Dionélio Machado. Quanto aos mais re­centes, além de Carlos Drummond de An­drade, há, entre outros, João Cabral de Melo Neto, Tiago de Melo, Ferreira Gul-lar, António Callado, Afonso Romano de SanfAna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Fonseca, Nélida Pinon.


LITERATURA INFANTIL NO BRASIL


   Até 1893, só existia, no Brasil, a literatura infantil oral. Em 1894, surgiu, no Rio, edi­tado pela Livraria Quaresma, um livro do jornalista e poeta fluminense António Figueiredo Pimentel (1869-1914) intitulado Contos da Carochinha.
Por ser obra inicial, de um género inexplorado, alcançou o livro êxito invul­gar no limitado comércio de nossas livra­rias.
Crianças, adolescentes e adultos leram os Contos da Carochinha, muitos dos quais, levados pela corrente da litera­tura oral, já eram conhecidos em todos os recantos do Brasil.
Aos Contos da Carochinha se­guiram-se outras obras do mesmo género: Histórias da Baratinha. Os Meus Brinque­dos, Álbum das Crianças, Histórias da Avozinha, Teatro Infantil. Todos eram editados pela mesma Livraria Quaresma e do mesmo autor F. Pimentel.
Estava, assim, iniciada no Brasil a li­teratura infantil escrita.
E já nesse tempo, isto é, em 1905, fun­dada pelo jornalista mineiro Luís Barto-lomeu de Sousa e Silva, aparece a primeira revista infantil brasileira: O Tico-Tico.
Por ser muito viva e interessante, essa revista divulgou-se por todas as cidades, e tornou-se tão querida e popular, que o seu nome passou a designar coisa infantil: es­cola de tíco-tico, história do tico-tico etc.
Heróis e personagens das histórias de O Tico-Tico viviam na imaginação das crianças: Chiquinho, Jagunço, Zé Macaco etc.
O Tico-Tico resistiu durante mais de meio século, sempre ao gosto da crian­çada.
Já nos primeiros lustros deste século havia dois livros que atraíam muito a atenção dos jovens brasileiros: Viagens de Gulliver, de Swift, com prefácio de Rui Bar­bosa, e Robinson Cntsoé, de Daniel Defoe, prefaciado por Carlos de Laet. Magní­ficas edições, feitas em Portugal, com es­tampas coloridas.
Surgem, a seguir, os livros da Con­dessa de Ségur (para meninas): Os Desas­tres de Sofia, Meninas Exemplares, João Que Ri, João Que Chora etc; tiveram boa aceitação nos colégios religiosos.
Juntamente com as obras dessa escri­tora eram vendidos os livros da Coleção Júlio Verne, editados pela Livraria Fran­cisco Alves.
Merece referência especial o livro Co­ração, do italiano Edmundo de Amicis. Em primorosa tradução de João Ribeiro, obteve esse livro grande aceitação nos meios literários. A primeira edição, no que se refere à parte material, era péssima. Mesmo assim, foi adotado como livro de leitura, até no Colégio Militar.
A literaturainfantil, no Brasil, atraiu a atenção de poetas e escritores notáveis.
Olavo Bilac traduziu, em versos, as Travessuras de Jucá e Chie, e, em colabo­ração com Coelho Neto, escreveu Contos Pátrios.
Viriato Correia e João do Rio publi­caram Era Uma Vez..., título que, mais tarde, foi adotado por Vicente Guimarães para uma revista infantil.
Olegário Mariano escreveu Tangará Conta Histórias.
A apreciada romancista Júlia Lopes de Almeida ofereceu às crianças brasilei­ras um livro: Contos Infantis.
A partir de 1930, a literatura infantil, no Brasil, recebeu impulso. Centenas de obras de indiscutível valor vieram enri­quecê-la.
Dentre os autores que têm dado con­tribuição a esse género de literatura, não devemos esquecer: Ofélia e Narbal Fon­tes, Rita Amil de Rialva, Ariosto Espi­nheira, Gondim, da Fonseca, Vicente Guimarães, Guilherme de Almeida, Me-notti dei Picchia, Hernani Donato, Renato


Sêneca Fleury, Lourenço Filho. Fran­cisco Marins, Érico Veríssimo, Nina Salvi, Virgínia Lefèvre, Lúcia Machado de Almeida, Francisco Acquarone, Tales de Andrade, Monteiro Lobato e muitos outros.
Na década de 1980, multiplicaram-se as edições de obras para o público infan­til, sobressaindo as de Orígenes Lessa, Ana Maria Machado, Ziraldo, Mário Quintana, Ruth Rocha, Fernanda Lopes de Almeida, Sílvia Orthof, Edi Lima, João Carlos Marinho, Stella Carr.
Já podemos assinalar, no Brasil, mui­tas e excelentes coleções de livros espe­cialmente destinados a crianças e adoles­centes.



Enc. Delta 


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