4.12.10

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Mitologia:

O Mundo dos Deuses

Para os antigos habitantes da Mesopotâmia, um enterro envolvia muito mais que o morto. A última morada era mobiliada com objetos tanto mais preciosos quanto mais importante e rico fosse o extinto. Animais, guardas e empregados formavam um cortejo para acompanhar o falecido na viagem sem retorno. Nada de extraordi­nário o esperava além. Tudo continuaria como na terra, de outro modo, talvez. O morto nem se acabava nem se transformava em ser divino.
Essas concepções remontam ao ano 3 000 a.C, mas só se tornaram conhecidas na década de 30, após a descoberta de túmulos em Ur, na Caldéia, hoje parte do Iraque. Também puderam ser conhecidas graças à literatura deixada pelos sucessivos habitantes da Mesopo­tâmia — assírios, caldeus, babilônios, sumerianos. Esses textos li­terários revelam temores com relação aos deuses, que, embora congenitamente bons, tinham imprevisíveis repentes de cólera.
Os deuses regiam as forças da natureza. Comandavam raios, ventos, rios, céu e terra, sol e lua. Eram representados sob forma humana, sem formas de animais, como eram os deuses do antigo Egito. Ãs vezes, acompanhava-os um animal; o leão, por exemplo, aparecia ao lado da deusa Ichtar, mas com um valor meramente simbólico ou metafórico. Não só na forma exterior os deuses se assemelhavam aos homens, mas também na condição, com a dife­rença de que não sofriam a morte. Padeciam, porém, as mesmas paixões, os mesmos sentimentos, as mesmas aflições humanas.
As divindades de maior prestígio entre os assírio-babilônios eram o deus lua, Sin; o senhor da terra, Ea; e o planeta Vénus, Ichtar. Protegia a Babilónia Bei Marduk. e a Assíria, Ashur.
El, o deus fenício
 Os deuses e mitos fenícios tinham estreita relação com a terra, pois os fenícios haviam sido agricultores, antes de se dedicar ao co­mércio e à navegação. Suas principais divin­dades eram El, criador de todas as coisas, senhor dos deuses e dos homens, e Baal, deus do furacão, da tempestade e da chuva, que praticamente dominava a natureza, embora com auxílio de Dagon, que protegia o trigo, e de Mot, que vigiava os messes e a matu­ração dos frutos. Ao lado de Baal se desta­cava Astarte, a deusa da fecundidade.
    Segundo textos posteriores ao século XV a.C, vários deuses alternadamente, morriam ressuscitavam, o que correspondia  ao eterno renascer da natureza. Os cartagineses e os fenícios sacrificavam crianças aos deuses pa­ra aplacar sua ira. Talvez por esse sacrifício (QmoUC), os hebreus atribuíram aos fenícios um deus Moloc.                   
Muitos deuses para Roma
Os deuses e cultos da Roma antiga provinham da Grécia, na maioria,  e dos povos nativos da Itália.
Destes últimos foi que os romanos herdaram o culto da fe­cundidade, dos mortos, do lar e da família. As divindades gregas apenas mudaram de nome em Roma, a partir do deus supremo, que na Grécia era Zeus. Aliás, entre os romanos havia muitos Júpiter: um Júpiter Ferétrio, guardião da árvore na qual se penduravam os despojos dos ini­migos. Um Propugnator, que de­fendia combatendo. Um Victor, que vencia as batalhas, e vários outros.
Normalmente camponeses, os romanos cultuavam ainda os pa­tronos dos rebanhos e dos cam­pos. Ofereciam-lhes animais, vi­nho e incenso antes das colheitas para granjear sua proteção. Al­guns desses deuses rurais ou as­sociados à agricultura mudaram de atividade com o tempo, como Marte, deus da guerra, que no princípio fora protetor das messes.
Os mitos que vêm das sagas
Tudo o que se sabe da mitologia nórdica vem através das sagas, contos que louvavam os heróis. Surgiram, segundo parece, por volta do século X, na Islândia, onde segja quis dizer narrar. As principais famílias islandesas, desejosas de imor­talidade, encarregavam os sgnamenn, homens de extraordinária memória e talento narrativo, de contar os feitos de suas estirpes. Os reis no­ruegueses depois seguiram o exemplo. Mais tarde, a essas tentativas de crónica acresciam-se elementos fantásticos e míticos, e os heróis dos antigos chefes misturaram-se com os deuses.
O centro do mundo era Midgard, o lar do ho­mem. A casa dos deuses, Asgard. Em torno das duas moradas, o mar. Além do mar, a terra dos gigantes e da Grande Serpente. Odin (também chamado Wotan) governava os deuses e os ho­mens e conhecia todo o passado, presente e fu­turo. Sua mulher, Frigga, recompensava as boas esposas e donas de casa com um fio de seda te­cido por ela no tear dourado. Seu filho Thor comandava o trovão, que fabricava a golpes de martelo. Loki, deus do fogo, era conselheiro e inimigo de seus pares.
Em Asgard ficava o Valhala, para onde as valquírias, mulheres guerreiras, levavam os heróis mortos em combate. Ali ficavam, entre lutas e festas, à espera da ressurreição do mundo. Antes, porém, teriam de enfrentar os gigantes, os mons­tros, a Serpente e o filho de Loki. Os heróis seriam vencidos e a terra ficaria toda escura e fria, até a vida recomeçar.
Os deuses védicos
No vale do rio índus viviam os mais antigos habitantes da índia. A partir de seus sinetes, selos e cerâmica, parece que eles adoravam ufcia deusa-mâe e um deus semelhante a Siva. E ve­neravam ainda o touro, a cabra e o crocodilo.
Os arianos, que, por volta de 1 500 a.C, in­vadiram a índia a partir do Norte, tinham vá­rios deuses: o céu, o sol, a terra, adorados sob forma humana. Em seu louvor escreveram hinos e cânticos, coletados nos Vedas, como se cha­mam os livros sagrados do hinduísmo. O mais velho é o Rig (real) Veda, que descreve a cria­ção do universo. O Rig Veda sugere ainda que existia um só deus, desdobrado em vários aspec­tos: o céu, pai do crepúsculo, Vayu (o vento), pai dos deuses da tempestade; Soma, pai das plantas, e Sarasvati, dos rios; Indra, filho da verdade, e Agni, filha do poder. Geralmente, eram benignos e amavam a honestidade e a retidão.
No desenvolvimento da religião hindu, essa realidade espiritual assumiu formas definidas e poderosas. Dirigiam o universo, criado a partir do nada, Brama, Vishnu e Siva. Vishnu descia à terra como peixe, tartaruga, leão ou duende. Foi também humanizado como herói chamado Krishna, que entrou na literatura hindu. Siva destruía e criava, além de presidir a dança. Sua mulher, Sakti ou Kali, era a deusa-mãe. Mas Brama dirigia toda esta trindade.
Deuses e homens estavam em perene luta contra os demónios, soturnos espíritos que habi­tavam o ar ou a terra e possuíam mágicos pode­res. No Ceilão, o senhor dos demónios era Ravana, personagem principal de uma antiga lenda hindu.
O deus que morava na estrela
religião da China antiga era tão bem organizada e hierarqui­zada como a própria sociedade chinesa. O direito do culto era privilégio dos patrícios. Os ple­beus recebiam benefícios indiretos, sem participar ativamente. Seu universo mítico era povoa­do de deuses, demónios, es­píritos maus Çkwei) e almas pe­nadas (10 • Sobre todos reinavam o Senhor do Alto, Chang-Ti, deus do céu, o Soberano Terra, Heu-t'u, deus do solo do reino, e os antepassados reais.
Chang-Ti vivia num palácio, na Grande Ursa, e governava por meio de delegados, cuja impor­tância aumentou sob a dinastia dos Tcheu. Durante o solstício de inverno (tempo em que o Sol se encontra maiá distante do equador, sendo os dias curtos e as   noites   longas),   o  imperador
oferecia sacrifícios ao deus do céu. A cerimônia era ao ar livre, nas terras de mármore do Tem­plo Celestial de Pequim.
Heu-t'u presidia as investidu­ras e zelava pela prosperidade do reino. Cada feudo possuía dois deuses do solo, hierarquicamente inferiores a Heu-t'u: um parti­cular e um coletivo. O primeiro era expulso e considerado morto quando mudava a dinastia. Mas continuava sendo venerado.
Os antigos chineses acredita­vam que seus antepassados so­breviviam como espíritos. Por isso, cultuavam-nos. Depois do funeral, colocavam na casa do morto uma placa e queimavam incenso. Aumentando o número de placas, as mais antigas eram removidas ao pavilhão dos ances­trais e guardadas por membros da família.
A suprema divindade do Japão era Amaterasu, deusa do sol. Um dia, mal­tratada por seu irmão Susa-no-wo, deus da tempestade, ela se refugiou na Ca­verna do Paraíso. Foi quando a escuridão cobriu todo o universo. Persuadida a deixar o esconderijo, a deusa do sol deixou sua imagem num espelho, que se tornou o tesouro de seu túmulo em Ise.
Susa-no-wo recebeu como castigo o banimento em Izumo, ao norte, juntamente com seu filho Oho-na-mochí, senhor da terra. Amaterasu então enviou do céu seu neto Ni-ni-gi, para governar a terra no lugar do sobrinho. Ni-ni-gi casou-se com a deusa do monte Fuji e seu filho foi o primeiro imperador japonês, Jimu Tenno.
Além de Amaterasu e sua família, os nipônicos cultuavam Tsuky-yomi, deus da lua. Izanagi e Iza­nami, que criaram as várias ilhas ao largo do Japão. Inari, deus do arroz, cujo emblema era a raposa. E ainda milhares de espíritos do vento, da chuva, do mar, das árvores e dos vulcões. O monte Fuji, sagrado sentinela do Japão, é anualmente visitado por numerosos peregrinos.
Séculos afora, os imperadores do Japão declara­ram-se descendentes da deusa do sol. O culto ao governante era previsto na religião de Estado. E os líderes militares estimulavam esse fanatismo patrió­tico para garantir apoio popular às suas teses impe­rialistas. Após a derrota do Japão na II Guerra Mundial (1939-1945), o Imperador Hirohito, num programa radiofônico, repudiou a ideia de sua na­tureza divina. Contudo, os grandes túmulos em Ise e Izumo continuaram a ser os centros de adoração, assim como centenas de pequenos altares dedicados aos espíritos da natureza e aos heróis.

enc. conhecer, edit. abril

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