4.12.10

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A Panela de mingau

Uma mulher, muito pobre, tinha um filhinho que ainda amamentava. Um dia, por causa de muita fraqueza, ficou sem leite para dar ao bebê.
Mesmo doente e fraca, a mulher foi à flores­ta para conseguir algumas frutas. Andando pela mata entre as árvores, viu de repente uma velhinha que lhe perguntou o que procurava. Contan­do sua história, recebeu das mãos dela uma pane­linha e, admirada, ouviu-a dizer:
- Coloque esta panela no fogo e diga: paneli­nha faça mingau. - Ela o fará. - O mingau é um alimento que o mundo ainda não conhece, mas dará saúde a você e a seu bebê. - Quando quiser que pare de fazer mingau, basta ordenar.
Levando a panelinha para casa, nunca mais faltou alimento para ela e seu bebê.
Um dia, uma menina pediu à mulher um pouco de comida, pois estava com muita fome. A mulher negou, dizendo que não tinha, e a pobre­zinha foi-se embora.
Com espanto, a mulher começou a ver a pa­nela fazer mingau sem parar, mesmo sem ter re­cebido ordem. O mingau aumentou, inundou a ca­sa e começou a sair pelas portas e janelas.
O mingau só parou de sair quando a mulher chamou de volta a menina pobre e muitos outros que sentiam fome.
Todos comeram muito e acabaram por co­nhecer o grande valor nutritivo do mingau, prin­cipalmente para as crianças.
2.
A Lira de Prata

Um comerciante, que trabalhava com produ­tos estrangeiros, viajava para vários países. Co­nhecia muito bem quase todos os lugares do mundo, assim como o dinheiro de cada nação. Em cada país em que chegava, trocava as suas moedas pelo dinheiro do lugar.
Em todas as trocas que fez, uma lira de prata, moeda italiana, nunca foi trocada. Por achar muito estranho este fato, o comerciante resolveu guardá-la como talismã.
Chegando a um país onde ficaria por algu­mas semanas, deu uma esmola a um pedinte.
O homem, conferindo em casa o dinheiro ganho durante o dia, notou aquela moeda estran­geira entre as outras.
Para passá-la na primeira compra que fizesse, colocou-a em vinagre, deixando-a esverdeada pa­ra se parecer com uma de seu país.
O comerciante, conferindo o dinheiro, notou a falta da lira, achando que, perdendo a moeda, havia perdido a sorte.
No dia seguinte, logo cedo, comprou um bi­lhete de loteria para fazer um teste. Pagou o bi­lhete e recebeu de troco algumas moedas. Reco­nhecendo entre elas a sua lira, ficou muito feliz. Não bastando essa alegria, também o bilhete foi premiado.
Muito rico e feliz, o comerciante voltou paia o seu país, limpou a lira de prata e colocou-a em um estojo de cristal como recordação.

3.
 O Sonho de Frederico

Como chovia, Frederico ouvia o barulho da chuva, mesmo dormindo.
Abriu a janela e a água já estava tocando o peitoril. Havia um verdadeiro lago em frente à casa, e nele estava um belo barco.
No mesmo instante, Frederico trajando sua roupa de domingo, estava a bordo do navio.
A chuva havia cessado e o tempo estava claro.
Navegavam rua abaixo, passando pela igreja e já estavam flutuando pelo mar imenso.
De repente, no convés do navio, apareceu uma cegonha. O grumete a apanhou, levando-a pa­ra o galinheiro.
Lá, além das galinhas, viviam patos e perus na maior confusão.

-    Mas olhem que sujeito esquisito! - disseram
as galinhas. - Já se viu ave mais estúpida?

-    Sim, na verdade é muito estúpida, concordou o peru e começou a zombar da pobre cegonha.
e todos os outros caíram na gargalhada.
Nisso, Frederico foi ao galinheiro, abriu a portinhola e chamou a cegonha que, imediata­mente, saltou para o convés, junto dele.
A cegonha, muito feliz, distendeu as asas e alçou vôo. Voou para os países quentes enquanto os que zombaram dela ficaram morrendo de inveja.

-   Amanhã, vamos fazer uma sopa de todos
vocês, gritou Frederico.
Nesse momento, acordou e viu que estava em sua cama, ficando feliz por ter ajudado a cegonha.

4.

Quem tudo quer...

Morava numa floresta um casal com quatro fi­lhos: três meninos e uma menina. O pai era carvo­eiro. Certa vez, durante um forte temporal, bateu à porta da cabana do carvoeiro uma pessoa que o carvoeiro, espiando pela pequena janela, não conse­guia ver direito quem era. Com receio, abriu a por­ta. Era um velho que pediu abrigo. Mandando-o entrar, o velho foi logo perto do fogo para se aquecer e enxugar a roupa. Enquanto isso, contou algumas histórias para a família. Como chovia mui­to, o velho pernoitou na choupana do carvoeiro.

-  Existe um tesouro em uma das cavernas desta
floresta. - Se quiserem, eu levo vocês até lá, em si­
nal de gratidão - disse o velho no dia seguinte.
O carvoeiro ficou meio "louco".

-  Mas - disse o velho - vocês só podem pegar
do tesouro um pouco de cada vez.
Lá chegando, viram enorme quantidade de ou­ro no fundo da caverna e começaram logo a encher uma sacola, esquecendo-se do aviso que o velho lhes havia dado. Então, veio o castigo: foram trans­formados em árvores secas e retorcidas.
A menina que ficara em casa, sentiu falta da fa­mília. Como nenhum deles voltava, ia todos os dias à floresta. Descobrindo a caverna, pegava cada dia uma barrinha de ouro que, aos poucos, iam se empilhando sobre uma mesa. Um dia, chegou à caba­na uma fada que recolheu as lágrimas da menina que chorava muito e regou as árvores mais secas. Assim, o encanto acabou e eles se tornaram ricos
com o ouro que a menina havia acumulado.
5.

 A historia que a velha Joana contou

Na aldeia, o vento murmurava na copa do velho salgueiro. Parecia que o vento cantava uma velha cantiga.
-  Se não a entenderes, pergunta à velha Joana.
Quando Joana era ainda uma menina, o al­faiate da aldeia contraiu uma doença e nenhum médico podia aliviar seu mal.

-  Não se deve perder a coragem, dizia a sua
esposa e, além disso, nosso filho Hanz já é capaz
de lidar com a agulha.
Hanz trabalhava na alfaiataria e, nas horas de folga, passeava com Joana.
A menina era muito pobre e nada bonita.
Um ano depois, seguia o rapaz para seu está­gio de aprendizagem, e Joana chorou, pois ficaria distante do amigo.
Na primavera, Hanz regressou ao lar e torna­ra-se um rapaz bonito e esbelto.
Ao chegar à cidade, ele casou-se com Elza, filha de um rico comerciante do lugar.
Joana foi servir na casa deles como criada. O tempo passou e Hanz tornara-se um homem ve­lho e doente, até que a própria família o expulsou de casa.
Joana o encontrou e cuidou dele até a morte.
O tempo passou e tudo envelheceu.
O vento murmurava uma cantiga na velha árvore à beira da estrada. A cantiga que cantava era nada mais que a estória da velha Joana.

6.

A pena e o tinteiro

gabinete de um poeta, o tinteiro dizia:

-   É quase inacreditável, mas não sei qual será
a obra que vai sair quando o homem se põe a me
sugar. Uma gota que tira de dentro de mim, basta
para encher meia página de papel.
A pena comentou:

-   Você dá a matéria líquida para que eu possa
manifestar o que reside em mim, pois quem escreve
sou eu.
O tinteiro disse:

-    Você tem muita experiência,  pois mal  faz
uma semana que está servindo e já se desgastou até
a metade.
À tardinha, voltou o poeta. Assistira a um concerto e ouvira um excelente violinista. Pensava na dificuldade de tocar assim. Era como se o arco dançasse pelas cordas, produzindo um mavioso som.
O poeta escreveu:

-  Que coisa estranha o violino e o arco se van­
gloriarem de suas façanhas, esquecendo que de­
pendem das mãos de um artista, assim como nós,
os homens, nos vangloriamos também, esquecendo
que somos instrumentos tocados pelas mãos de Deus.
Então, disse a pena:
-   Ouviu-o ler em voz alta o que eu escrevi?

-   Sim, respondeu o tinteiro, ele leu o que eu
lhe dei para que escrevesse.
-   Pote de tinta... disse a pena.
-   Vareta de escrever... disse o tinteiro.
Cada um ficou com a certeza de ter respondido


7.

Era uma vez
um príncipe tão malvado, que sentia prazer em invadir cidades, destruindo pes­soas e suas casas, saqueando-lhes os bens.
Comandava seu exército, transformando seus soldados em um bando de vândalos e saqueado­res, ordenando-lhes que guardassem no castelo tudo o que roubassem. Sua malvadeza, suas vitó­rias e seu orgulho o levaram a imaginar-se inven­cível para sempre.
Por isso, mandou fazer sua estátua e colocá-la nas cidades que destruía. Também na igreja de sua cidade, mandou colocar uma.
O padre não aceitou aquela imposição e disse:
- Você não é mais que Deus, pois ele se so­brepôs a todas as forças da terra.
Muito indignado, o maldoso príncipe disse que iria ao céu para derrotar a Deus. Mandou construir uma nave com duas asas na frente e duas atrás.
As asas estavam protegidas por longas lâmi­nas que as movimentavam com rapidez para to­dos os lados. Dos dois lados da nave, havia furos que expeliam balas e, no centro da nave, "havia uma cabine de onde seriam acionadas poderosas armas.
O príncipe partiu e, quando se aproximava do céu, uma nuvem de mosquitos in­vadiu a nave, fazendo com que todo o mecanis­mo parasse, exceto as asas. Sem rumo e descendo em país estranho, o príncipe que havia sido pica­do por um mosquito, morreu.

8.

O feito mais extraordinário

Casaria com a princesa o homem que reali­zasse o melhor dos feitos.
Houve uma explosão de coisas extravagantes. Contudo, o júri não demorou a chegar a um acordo quanto ao vencedor: era o artista que fa­bricara um grande relógio de parede.
O relógio, ao bater as horas, exibia quadros vivos. Eram doze espetáculos com figuras que cantavam e falavam.
Quando o relógio deu uma hora, ergueu-se Moisés do cimo de um monte com as tábuas da lei. Às duas horas, surgiu o paraíso com Adão e Eva. As três apareceram os três Reis Magos. Às quatro, mostravam-se as quatro estações. As cin­co apareceram os cinco sentidos: da visão, audi­ção, paladar, olfato e tato. Às seis, apareceu um jogador lançando dados em um dos quais se via um lado com seis pontos. Às sete, os sete dias da semana. Às oito, um coro de monjas cantando.
Nove musas acompanhavam as badaladas das nove horas. Às dez, reapareceu Moisés com as tábuas e os Dez Mandamentos.
Quando o relógio tornou a bater, apareceram onze meninas cantando e dançando. Às doze, apareceu o guarda-noturno entoando uma velha canção: É meia noite e o Salvador nasceu.
A princesa, após a apresentação, disse:
- Tragam o executor desta obra. - Ele será meu marido.
Todos os outros aceitaram a vitória do artista.

9.

 O porquinho-cofre

Eram muitos os brinquedos que estavam no quarto infantil. Porém, separado de todos estava um porquinho de louça que, lá de cima do armá­rio, olhava para os outros com olhares de indife­rença. Afinal, ele tinha uma grande barriga re­cheada de moedas.
Ele dizia que, com o dinheiro que possuía, poderia comprar todas aquelas bugigangas, e era assim que ele chamava todos os outros brinquedos.
Uma boneca, que também era da turma, chamou todos os seus amigos e disse a eles sua ideia de fazer uma pecinha de teatro, que seria parte de uma festa que ela havia planejado. O convite ao convencido porquinho foi feito através de um bilhete, pois eles achavam que, com todo aquele orgulho, ele não aceitaria o convite verbal.
Porém, ele não respondeu ao bilhete. Os brinquedos, então, montaram o teatrinho com o palco virado para o armário, dando ampla visão inclusive ao porquinho.
Para depois da peça, foram programadas brin­cadeiras que se prolongaram por toda a noite. Todos faziam estripulias; o cavalo de balanço, o soldadinho de chumbo, a,bailarina boneca, etc.
Em dado momento, o porquinho começou a rir tanto, que acabou por se esquecer que ele não havia participado da brincadeira.
Todos pararam e olharam para ele.
Então, ele se sentiu envergonhado e pediu des­culpas.

10.


A  pulga e o professor

Um professor e sua pulga amestrada chega­ram a um determinado país, habitado por selvagens.
Quando a pulga apresentou armas e disparou seu canhãozinho, a princesa de apenas oito anos disse:
-  Eu a quero para mim.
A pulga ficou com a princesa que a acomo­dou em seu lindo pescoço.
O professor andava aborrecido e desejando sair dali, mas seria necessário levar também a pulga que era sua obra maravilhosa. Mas isto não seria fácil. Por fim, achou a solução. Foi ter com o rei e disse:

-    Majestade,  dá-me licença para ensinar seu
povo a disparar um canhão que fará tremer a ter­
ra e -as aves mais tenras cairão assadas no solo
com a força da explosão.
-    Pois traga-me o canhão, disse o rei.
Não havia no país canhão algum a não ser o da pulga, que era muito pequeno. O professor disse que fundiria um bem maior se lhe dessem fios de pano de seda, linha, agulha e cabos ou cordas.
Fez um balão e, quando estava pronto, todo estufado, o professor disse:
-  Preciso da pulga para me ajudar a fazê-lo  subir.
Recebendo a pulga das mãos da princesa, gri­tou:
-  Cortem as amarras.
O balão subiu, desaparecendo nas nuvens. E assim, o professor conseguiu fugir com sua pulga.

11.

O Colarinho

 Um colarinho que pertencera a um nobre da corte adquiriu toda a personalidade de seu ex-dono.
Um dia, encontrando-se em uma tina de la­var roupas, junto a um par de meias de mulher, exibia todo o seu ímpeto de conquistador, dizendo a ela:

-   Valha-me, Deus, nunca vi alguém tão esbelta, ­
tão delicada e tão elegante como a senhora.
A meia não respondeu, mas ele insistindo, per­guntou:
-   Onde mora?
A meia era muito tímida; por isso, continuou calada. O galanteador colarinho prosseguiu:
-   Vejo que a senhora, além de útil, é um en­feite.
De repente, o conquistador foi levado a uma mesa para ser passado à ferro, mas como já esta­va muito esfiapado, a passadeira, pegando uma tesoura, cortou-lhe os fiapos. Vendo a tesoura, o colarinho disse com voz macia:
-   A senhora deve ser uma dançarina de pri­meira classe, pois nunca vi alguém tão elegante em minha vida. - Gostaria de me jogar a seus pés.
Irritada, a tesoura cortou-o ao meio e, logo após, ele foi jogado em um saco, onde já havia muitos trapos.
Levado com os trapos a uma máquina de fa­zer papel, ia contando a eles suas conquistas e talvez seja ele este pedaço de papel, impresso com essa estória.

12.

Um par de namorados

Achavam-se lado a lado em uma caixa de brinquedos, um pião e uma bola. Sentindo-se apaixonado pela bola, o pião fez a ela uma pro­posta de casamento:

-    Conhecemo-nos há tanto tempo, que penso
podermos ser muito  felizes se você concordasse
em se casar comigo.
-    O que dizes? - respondeu a bola. - Não vês que sou de marroquim espanhol, um dos mais fi­nos artigos da Europa? - E tu... feito de madeira comum e tão sem graça!
-    Não, não, retrucou o pião, sou feito de ce­dro e esculpido pelo mais famoso burgo-mestre deste país.
A bola disse a ele que toda a vez que saltava mais alto, conversava com um lindo pássaro do qual já era praticamente noiva. Um dia, a bola desapareceu em um desses saltos. O pião, dentro da caixa, vivia muito triste, pensando que ela já tivesse se casado.
Certo dia, o menino lembrou-se dele e o pintou de dourado.
Quando novamente em rodopio veloz, come­çava a se sentir feliz, fazendo rom... rom... Em um desses rodopios, bateu em uma pedra e, sal­tando, caiu dentro da lata de lixo. Via ao seu re­dor talos de couve, folhas murchas, cascas de ovos e também a orgulhosa bola que mais parecia batata murcha. A bola que, por acidente, havia sido jogada fora, virou e disse:
-  Felizmente encontrei categoria.

13.

A roupa do rei

Havia um imperador que não pensava em outra coisa a não ser em roupas novas. Não dava o menor valor aos assuntos do governo e nem mesmo ia ao teatro. Só se preocupava com novos e lindos trajes.
Um dia, dois malandros, dizendo-se tecelões, foram ao castelo oferecer seus serviços.
O imperador, pensando em um lindo traje, ficou mais feliz quando soube que aquela roupa seria diferente, pois só seria vista por pessoas ho­nestas. Às pessoas desonestas se tornaria invisível.
Querendo saber se os integrantes da corte eram honestos, o imperador mandou-os inspecionar a roupa em confecção. Para não deixar transparecer sua desonestidade, cada um que vol­tava dizia ao imperador que a roupa era muito bonita e de fino gosto, mas na verdade não viam coisa alguma, pois nada havia para ver.
Os malandros já haviam conseguido muito dinheiro e recebiam sempre mais para a compra de agulhas, aviamentos e outros aparatos sem nada confeccionar. Dias após, houve um desfile na cidade, e os malandros cuidadosamente fin­giam vestir no imperador a roupa que ele também não via, mas fingia ver.
O desfile foi visto por quase toda a cidade, mas o povo, como era também desonesto, aplau­dia a roupa nova do imperador que, na verdade, andou o tempo todo nu.



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