28.2.09

Pintura, a mais antiga das artes 3

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A MAIS ANTIGA DAS ARTES lll

De Roma, Veneza e Parma, a pintura renascentista expandiu-se, no sé­culo XVI, para toda a Europa, im­pulsionada por talentos como os de Leonar­do, Rafael e Michelangelo. A França, tradi­cionalmente gótica, fez evoluir a herança para uma concepção própria do retrato: o psicológico, concentrado no rosto, valorizan­do os traços reveladores do caráter. Nos Países-Baixos, sobretudo na Holanda, os italia­nos introduziram uma nova escola: o Ma­neirismo. O final do século XVI marcará o declínio da arte renascentista em favor do novo movimento artístico.
Os maneiristas cultivaram e alteraram — adaptando-as a seus conceitos — as formas da época de espírito, clássico da Renascen­ça, preocupando-se mais com o movimento das figuras e a exploração do claro-escuro. Conseguiram, por esse meio, um realismo dramático, que culminaria no espírito trági­co do Barroco.
Os Países-Baixos conheceram, todavia, um último rebelde que se agarra ao lirismo da natureza, tradicional na pintura nórdica: Pieter Bruegheí, o Velho. Dominada por instintos elementares e ligada às forças da natu­reza, sua obra manteve um estilo que é uma das mais originais expressões da arte nórdica.
Já anteriormente, artistas como Cranach haviam aderido a esse Maneirismo, alongan­do as suas, formas contorcidas de um gótico tardio, para fazer desabrochar o Expressionismo germânico, notável nas concepções do nú mitológico.
Ao mesmo tempo, a pintura espanhola também sofria influências alienígenas. O maior expoente dessa "invasão" é Domenikos Theotokopoulos, com suas figuras expressi­vamente longas, tomadas de atitudes convulsivas e retratadas em cores alteradas e sulfu­rosas. Trata-se da exasperação do Maneirismo, que se propaga por toda a Europa, no gran finale quinhentista. O autor dessa ori­ginal pintura espanhola, toda feita de írrealismo e expressão, ficou conhecido por um apelido muito simples: El Greco


O Barroco é uma pérola; o Rococó, uma concha

Para os neoclássicos, que sucederam à épo­ca do Barroco, o termo não derivava do espa­nhol "barrueco" (pérola irregular) ou de "baroco" (silogismo escolástico), Era consi­derado sinónimo de extravagância e mau gosto. Levado às últimas consequências, o Bairoco desaguou no Rococó, cuja repu­tação não era melhor: era-lhe atribuído o sentido de "vida ociosa" identificada como oposição aos princípios de ordem, proporção e beleza do Renasci­mento, a pintura barroca caracterizou-se pelo dinamismo e movimentação das formas; vio­lentos contrastes de sombra e luz, de assunto e intenção, de grandiosidade e preocupação pelo pormenor. Obtém, assim, efeitos expres­sivos que vão do patético ao suntuoso. Já o Rococó — nome derivado de "concha" (ro caille, em francês), que foi um de seus ele­mentos característicos de decoração — ex­pressaria o surto da economia manufaturei-ra europeia e os prenúncios da burguesia industrial. Enquanto retrata os aspectos da nobreza em decadência, espírito galante e fútil, sentimentos superficiais de mundani-dade e fantasia decorativa, a pintura torna-se leve, luminosamente colorida, elegante­mente graciosa.
Como a Itália do século XVII procurava libertar-se da degenerescência causada pela crise maneirista e como os artistas permane­cessem num marasmo improdutivo, um pin­tor realizou, sozinho, uma revolução, supe­rando tudo o que se faria de original nos cem anos seguintes. Livrando-se do intelec­tualismo maneirista, obrigou a arte italiana e, conseqúentementc, a europeia, a caminhar para d Naturalismo. Num país em que só se pintavam Vénus e Madonas, Miguel An­gelo Merisi, o Caravaggio, foi buscar seus modelos de santos e heróis entre os tipos humildes. Pela simplicidade grandiosa das composições e a oposição violenta de sombra e luz, obtidas graças a uma iluminação late­ral, Caravaggio restituiu à pintura italiana a franqueza dos volumes. Em Roma, é se­guido por toda uma escola cuja grande preocupação é o jogo de claro e escuro. Nos Países-Baixos,'a pintura flamenga, na
sua fase maneirista, que tratava as figuras humanas e os animais em proporções reduzi­das, em meio a um enquadramento univer­sal, passou a colocar formas monumentais em primeiro e segundo planos, reduzindo o fundo a simples cenário. Essas duas corren­tes, no Barroco, aparecem inteiramente de­finidas na obra de Píeter Paul Rubens. Nela há um universo de formas, percorridas pela energia da vida, que explodem em gestos e expressões. Tipicamente barroca, sua pintura são instantâneos roubados aos movimentos.
Através de pintores alemães vindos de Roma, a maneira de Caravaggio fica conhe­cida e influencia a pintura de Rembrandt, o maior pintor holandês, que se entrega a uma obra motivada pela Bíblia. Onde melhor se vê a evolução psicológica e pictórica de sua arte é na coleção de auto-retratos.
O século XVIII francês faz a Pintura su­cumbir ao Rococó. Sua função é, agora, tornar atraente o quadro. Nas telas, o real passa a ficção romanesca, sob a influência da ópe­ra. Watteau, Fragonard, são os artistas mais característicos desse género galante e os mais típicos de seu século de otimismo .despreo­cupado, gosto frívolo e sensibilidade erótica. A Itália abandona o concerto europeu e submete-se à influência do novo movimento francês. Os italianos, exceção feita a Veneza, vêem surgir brilhantes virtuosas. Os venezianos, contudo, conservam suficiente vigor e dedicam-se à beleza de sua cidade e ao encanto decadente e sensual de sua civilização. Os maiores nomes: Tiepolo e Canaletto.


O artificialismo neoclássico

Já em fins do século XVIII, surge o Neo­classicismo, como expressão das transforma­ções sociais, em cuja origem está a Revolução Francesa. Esta escola valoriza a razão e a natureza e critica o comportamento humano. Em termos pictóricos, voltar-se-á à Antigui­dade Greco-Romana, em busca de salvação e paradeiro aos desmandos da época do Rococó. Esse retorno, efetuado simultaneamente por ingleses, franceses, alemães e italianos, é resultante do interesse pelo clássico, que a descoberta de ruínas gregas e romanas des­pertou. Para a difusão da nova estética, mui­to contribuíram os estudos eruditos, entre os quais se destaca a célebre História da Arte Antiga, de Winckelmann, que dizia preferir a nobre, simples e calma grandeza da arte grega antiga à "irresponsabilidade, extrava­gância e impertinente fogosidade" barroca. Sob os temas mitológicos e heróicos tirados da Antiguidade Clássica e traduzidos em lin­guagem formal, aparece na arte neoclássica o ideal de fazer emergir uma época consi­derada como a origem de toda beleza e virtu­de.
Elegendo Rafael como modelo, os neo­clássicos fazem predominar a linha e o desenho sobre a cor. E pela imitação dos antigos clássicos, cerceiam a liberdade de criação e expressão. Seu caráter formalista é pouco favorável aos assuntos pessoais e nacionais.
Louis Davíd é o mais importante pintor neoclássico. Mas é a Goya que cabem as honras de ter ultrapassado as limitações da escola, com sua arte visionária, de critica da natureza humana e da sociedade da época, e atingido já alguns dos temas da pintura romântica.

enc. conhecer abril

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