27.2.09

Revoluçao, busca de novos caminhos

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Revoluçao
A busca de novos caminhos


Ao longo do processo de evolução da sociedade humana, presenciamos uma luta contínua pelo controle do poder. Em todas as épocas, manifestaram-se movimentos que levam ao poder — ou afas­tam dele. — faraós, reis e imperadores. Na maioria não constituem, propriamente, o que chamamos hoje de revolução — são consi­derados apenas rebeliões ou insurreições.
A revolução, segundo o conceito atual, é um movimento que provoca mudanças bruscas, às vezes violentas, na estrutura po­lítica, económica e social de um Estado. Só na Idade Moderna surge com essas carac­terísticas bem definidas. O movimento con­siderado como padrão desse conceito é o pro­cesso revolucionário francês, que se mani­festou entre 1787 e 1794, e atingiu seu pon­to máximo em 1789. Por isso é também cha­mada "Revolução de 1789". Sua importân­cia como marco está no fato de ter tido re­percussão mundial, por sua violência e por suas causas, comuns a praticamente todos os outros movimentos que irromperam no fim do século XVIII. Os modelos de ação e ideo logia, lançados por ela, orientam os movi­mentos posteriores, que ocorrem por toda a Europa em 1830 e 1848. É nesse período que se formam as diferentes correntes po­líticas que serão responsáveis pelas revolu­ções modernas e contemporâneas.

Correntes da politica
Após a queda de Napoleão, o Congresso de Viena (1815) restabelece os regimes absolutistas. E logo se formam os grupos de oposição a eles. As tendências da oposição são justamente as que. marcaram as três grandes fases da Revolução Francesa: moderada-liberal, constituída pela aristocracia liberal e a alta classe média; radical-democrata, representada pela pequena burguesia e intelectuais; e a socialista, constituída pela recém-formada classe de operários in­dustriais.
A primeira tendência inspirava-se nos ideais da fase de 1789-1791, em favor da monarquia constitucional parlamentar e do voto censitário, isto é, de acordo com a ren­da dos eleitores. Suas reivindicações estão contidas na Declaração dos Direitos do Ho­mem e do Cidadão, de 1789, que é um mainfesto contra o poder da nobreza e da mo­narquia absoluta. Nele se defende, contudo, a propriedade privada, que é considerada "um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável" e aceita-se a existência da dis­tinção de classes.
A segunda tendência origina-se no regi­me de 1792-1793, tendo como objetivo po­lítico uma república democrática. Seus prin­cípios baseiam-se na Constituição Jacobina, que previa o sufrágio universal, o direito de insurreição e estabelecia os fundamentos de uma assistência social às camadas mise­ráveis da população, cabendo ao governo fornecerlhes trabalho e auxílio direto. Es­tabelecia, ainda, a instrução pública para todos. Foi a primeira constituição realmen­te democrática promulgada por um Estado moderno.
A terceira tendência surge das rebeliões posteriores ao período termidoriano da Re­volução, principalmente da "Conspiração dos Iguais", liderada por Babeuf em 1794. Considerava a igualdade política insepará­vel da igualdade social e acreditava na pos­sibilidade de um domínio direto do povo sobre os órgãos do Estado. Preconizava uma economia controlada e a reorganização sis­temática da vida social, por meio da pro­priedade coletiva e do ensino público obri­gatório, para a transformação da mentali­dade das massas. Representa o início de uma linha socialista de pensamento..
Apesar das diferenças nas linhas políti­cas, todas essas tendências uniam-se diante do inimigo comum, a monarquia absolutis­ta. Embora se guiassem por princípios esta­belecidos na Revolução de 1789, as revo­luções do século XIX eram planejadas e cuidadosamente estudadas, baseando-se nos modelos por aquela oferecidos.



As sociedades secretas
O período de 1815 a 1830 é marcado pe­las conspirações seguidas de tentativas de estabelecer a "monarquia constitucional em toda a Europa. A oposição à restauração do absolutismo resumia-se, em geral, a grupos formados por intelectuais e pessoas ricas, se­guidores da linha radical-democrática. Mas suas reivindicações limitavam-se ao plano político; não apresentavam programa algum de modificações sociais em outros setores. Com exceção da Inglaterra, onde a situação política e económica era peculiar, não havia diferenças flagrantes entre as correntes opo­sicionistas europeias. Os revolucionários consideravam-se como grupos decididos à lu­ta pela emancipação da massa que, embora lhes fosse favorável, nada faria para parti­cipar ativamente da luta. Encaravam a re-v volução como um fenómeno europeu, um movimento global indivisível, e não local ou nacional. Adotavam, inclusive, a mesma for­ma de organização: a sociedade secreta insurrecional.
A mais conhecida dessas sociedades foi a dos "carbonários", assim chamados por ser constituída de lenhadores carvoeiros (carbo-nari, em italiano), que se reuniam nos bosquês. Esse grupo formou-se na Itália, de­pois de 1806, e estendeu-se por toda a Eu­ropa a partir de 1815. Alcança seu apogeu no período de 1820 a 1821, sendo que mui­tos de seus organismos foram virtualmen­te destruídos em 1823. Mas permanece co­mo linha de organização revolucionária mui­to importante, até depois dos movimentos de 1830. Era formado por grupos hetero­géneos; no entanto, estavam todos unidos pelo ideal comum de oposição ao absolu­tismo.
A vitória dos movimentos revolucionários, ainda que passageira, dependia da adesão da classe militar. Na França e na Rússia, por exemplo, onde não foi conseguida, fra­cassaram. Já na Espanha, Nápoles e Sar­denha, onde foram apoiados pelos militares, são vitoriosos; e conseguem forçar os sobe­ranos absolutistas a promulgar constitui­ções ou restabelecer as que haviam sido abo­lidas. A adesão da classe militar a esse mo­vimento explica-se por sua composição, pois nela havia grande número de oficiais não-aristocratas.
Por volta de 1823, entretanto, todos os regimes constitucionais haviam sido derro­tados, devido à intervenção estrangeira: da França na Espanha e da Áustria na Sardenha e Nápoles. Somente a revolução grega de 1821 conseguiu manter-se, isso porque não apenas desencadeou a revolta popular geral, mas contou também com o apoio de grandes potências. A Rússia, a Inglaterra e a França, empenhadas no enfraquecimento do Império Otomano, do qual a Grécia fa­zia parte, não hesitaram em ajudar o mo­vimento rebelde.

A fase revolucionária
Por toda a Europa rebentam movimentos revolucionários em 1830 e 1848, num clima de inquietação social e económica provoca­do pelas transformações que marcaram o fim do século XVIII e princípios do XIX. São repercussões de uma nova revolução, mas esta de natureza bem diferente: a cha­mada Revolução Industrial.
No plano político, as transformações de estrutura que caracterizam a nova era in­dustrial tornam possível a revolução de mas­sas, no modelo da de 1789; a atividade das sociedades secretas torna-se desnecessária. Por outro lado, o desenvolvimento urbano atraí para as cidades a mão-de-obra dos cam­pos. Dessa forma, passa a delinear-se uma nova estrutura, mais adequada à realidade industrial. As linhas políticas dividiram a Europa em duas grandes, regiões; na área a oeste do Reno, predominam as tendências liberais. A leste do Reno a situação conti­nua como antes: todos os movimentos con­tra o absolutismo, que ainda perdura, são derrotados pelos austríacos e russos.

Contra a monarquia
Uma reação nacionalista contra o inter-nacionalismo carbonário ganhou terreno e captou grande parte da esquerda europeia, após 1830. Os liberais ainda aceitavam uma possibilidade de conciliação. Acreditavam que se o monarca aceitasse pautar seu go­verno por uma constituição democrática, era bastante viável e até mesmo desejável que ele se mantivesse no poder.
Mas os radicais não aceitavam a con­fiança dos liberais nos príncipes e potenta­dos. Achavam que os povos deveriam prepa­rar-se para conquistar a liberdade por seus próprios esforços e não esperar que alguém lha quisesse outorgar. O mesmo sentimento era professado pelos socialistas, herdeiros do chamado babeuf ismo, a linha liderada por Babeuf na terceira fase da Revolução Francesa.


O princípio da revolução social dividiu os radicais da classe média, na França, ho­mens de negócios e intelectuais, que se opu­nham aos governos liberais moderados. Na Inglaterra, a maior parte da oposição libe­ral' colocou-se contra os movimentos das clas­ses trabalhadoras.
Apesar de divididos pelas condições lo­cais, pelas nacionalidades e pelas classes, os movimentos de 1830 e 1848 conservavam muitas coisas em comum. Continuavam sen­do, cm sua maior parte, organizações em que predominavam a classe média e os inte­lectuais. Ao estourarem as revoluções, o po­vo muitas vezes unia-se a elas; mas em ge­ral não participava ativamente da elabora­ção do movimento. E o padrão de estratégia e tática mantinha-sc o mesmo, com base na experiência herdada da Revolução de 1789, quaisquer que fossem suas linhas, modera­das ou radicais, conforme a situação política e social de cada país.
As palavras de ordem da Revolução Fran­cesa mobilizavam grandes setores da popu­lação. Isso era compreensível, uma vez que seus princípios — liberais e igualitários — não se haviam concretizado ainda na maior parte da Europa. Em 1848, somente a alta burguesia participava do setor governamental; e, mesmo assim, apenas em alguns paí­ses. A monarquia absoluta e a aristocracia ainda perduravam em muitos lugares. Por­tanto, permanecia ainda como reivindicação atua] a liberdade de expressão, a igualdade de oportunidades, que eram o objetivo da luta em 1789.
Dessa forma, todo o cenário político euro­peu foi, pelo menos até 1848, dominado por objetivos e métodos surgidos na grande Re­volução Francesa. Pouco a pouco, os méto­dos e mesmo os objetivos foram sofrendo transformações. No final do século XIX e no decorrer do século XX, os movimentos revolucionários, em todo o mundo, assumi­riam novas características. Para isto, contri­buiriam as grandes transformações no cam­po económico e social, derivadas da indus­trialização crescente, e a queda da monar­quia, na maior parte dos países.

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