28.11.10

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A  MEDICINA MODERNA

    A cápsula   entrou   em   órbita.   Daí   em diante, até a fase final do vôo, a ve­locidade se manterá altíssima: 28 000 quilómetros   horários.   O   denso   silêncio   é esporadicamente   interrompido   pelas   radio-comunicações. O piloto tem a impressão de estar imóvel no espaço.
Não há mais força de gravidade. O piloto flutuaria na cabina, caso não estivesse preso ao assento. Tem dificuldade em controlar os movimentos e a voz, porque o ar, também sem peso, não oferece nenhuma resistência. É o estado de gravidade-zero, absolutamente no­vo para o homem. E como o organismo hu­mano estruturou-se para sobreviver em am­bientes cuja força de gravidade é de apro­ximadamente 1 gb, nessas novas condições sofrerá profundas alterações fisiológicas.
Desde o lançamento, o piloto é atingido por vibrações provocadas pela intensidade dos ruídos; perturbações cardiovasculares dolorosas, enormes dificuldades de respiração, hemorragias cutâneas, alucinações, con­vulsões, perda dos sentidos, em virtude das acelerações  sucessivas   de  velocidade.
O treinamento pode tornar o piloto mais adaptado.  Por outro lado, determinadas dificuldades só serão superadas pelo desenvol­vimento das capacidades fisiológicas do seu organismo. Conhecer as potcncialidades fi­siológicas para colocá-las em ação é tarefa da medicina espacial, o mais novo ramo da medicina. Um dos métodos que emprega é a observação e o registro das atividades dos sistemas orgânicos durante os voos.
A medicina espacial é fruto do enorme desenvolvimento da medicina moderna, que dependeu, em grande parte, da evolução da fisiologia, farmacologia, patologia, e ou­tros setores da pesquisa científica pura ou aplicada. Cada uma dessas divisões fornece aos dois grandes ramos da medicina, a clí­nica e a cirurgia, os meios de conhecimen to c de ação.
Irredutivelmente
A fisiologia (do grego: jthysis — nature­za; logos = ciência) estuda a estrutura e o funcionamento dos órgãos sadios ou doen­tes (fisiopatologia). E a moderna fi­siologia procura conhecer o funcionamento dos órgãos, a partir do conhecimento das funções da célula, componente fundamental dos órgãos.  Para  tanto, concorrem  técnicas
Com  a microscopia eletrônica, ou seja: a observação de estruturas infra microscópicas da célula, possibilitada pelo microscópio eletrôníco, capaz de ampliar 250 000 vezes — o microscópio comum amplia no máximo 2-3 000 vezes —, porque utiliza feixes de eletrons em lugar de raios de luz.
Usufruindo dessa e de outras conquistas científicas e tecnológicas, a fisiologia cami­nhou a largos passos. O diagnóstico e trata­mento das perturbações orgânicas avança­ram no mesmo ritmo.
Que remédio?
O conhecimento dos órgãos já é meio ca­minho andado para a prevenção, o reconhe­cimento e a cura das doenças que os afetam. Uma das formas de tratamento é a admi­nistração de drogas (quimioterapia), que implica o estudo da natureza, composição e ação dessas drogas. Esse é o objeto da far­macologia (do grego: pharmacon ~ droga; lagos — ciência). Suas descobertas possibi­litaram ao homem a erradicação, ou pelo menos o controle, de doenças que há muito vinham causando devastações a toda a hu­manidade.
Gerhard Domagk desencadeou o processo de combate a moléstias infecciosas, ao des­cobrir o frontosil vermelho (droga para curar as infecções causadas por bactérias). Seguiram-se as sulfanilamidas ou sulfas (de­signações correntes de para-aminobenzeno-sulfonamida, substância que toma o lugar do ácido para-aminobenzóico existente no or­ganismo, à falta do qual algumas bactérias degeneram e sucumbem diante das defesas orgânicas).
Outra importante contribuição ao trata­mento das infecções por bactérias foi intro­duzida em 1938, com a descoberta dos an­tibióticos: substâncias químicas produzidas por microrganismos, capazes de inibir a pro­liferação (ação bactericida). Sua ação é, portanto, muito mais radical do que a dos medicamentos anteriores. Na década 1940-1950, a produção de antibióticos se intensi­ficou, aparecendo a penicilina, a estrepto-micina, a cloromicetina, a aureomicina e a terramicina,  poderosíssimos  antibióticos.
Igualmente importante foi a possibilidade de purificar ou mesmo de sintetizar, em la­boratórios, vários hormônios — substâncias químicas secretadas pelas glândulas endócri-nas que exercem funções específicas sobre as atividades de outros órgãos. Chegou-se, assim, à solução para várias moléstias: o dia­bete (excesso de açúcar no sangue) pôde ser controlado através de aplicações de insulina (hormônio do pâncreas); a artrite (inflama­ção das articulações) passou a ser tratada com cortisona (hormônio do córtex supra-renal).
Esses hormônios do córtex supra-renal compõem uma categoria especial de medica­mentos: os corticóides. O primeiro a ser sintetizado foi a desoxicorticoesterona, em 1937. Ainda entre 1940 e 1950 foram sinte­tizados outros corticóides: a cortisona, a cor-ticoesterona, a hidrocoartisona, a aldoeste-rona, etc. Aplicam-se no tratamento das inflamações, alergias e distúrbios metabó­licos em geral.
A farmacologia conquistou também uma margem muito maior de segurança na admi­nistração de anestésicos, eliminando os efei­tos tóxicos para o paciente. Os mais usados são: Thionembuthal e Vluothane, para cirur­gias de duração prolongada; Xilocaína, como anestésico local, para cirurgias mais simples e rápidas.
A reação
Ê melhor prevenir do que remediar. Esse é   o  objeto   da   imunologia,   que   estuda   o
mecanismo  das  reações  do  corpo  humano das causas que perturbam seu funcionamen­to, como: venenos, toxinas ou micróbios. Essas reações consistem na formação de cer­tas substâncias, (anticorpos) que se opõem a outras (antígenos) introduzidas no sangue. Dessa forma, ao produzir anticorpos contra determinado antígeno, o organismo se arma para enfrentar um provável ataque. Torna-se "imune". Os anticorpos são, portanto, não só agentes de defesa imediata, como tam­bém imunizadores a médio ou longo prazo. As vacinas provocam no organismo essa reação defensiva. No século XX  elaboraram-se várias vacinas: contra difteria, tétano, peste bubônica, varíola, poliomielite, sarampo, etc.
Outra contribuição da imunologia  à  te­rapia foi a classificação do sangue em tipos, realizada pelo médico austríaco Karl Lands-teíner em  1900, da maior importância ,para . as transfusões.
Os tipos são A, B, AB e O, assim definidos pela ocorrência de certas substâncias nos glóbulos vermelhos.
De acordo com essa diversificação, há princípios de doação e recepção, esquemati­zados na seguinte tabela:
Grupo sanguíneo
Pode doar a:
Pode receber de:
A
A e AB
A e 0
B
B a AB
B e 0
AB
AB
A,   B   AB,   0
0
0,' A,  B, AB
0
O tipo AB é, pois, o receptor universal, e o tipo O constitui o doador universal.
A partir desses dados, as transfusões pu­deram ser feitas sem perigo de choque fatal por incompatibilidade sanguínea.
Observação importante, relacionada com a incompatibilidade sanguínea, foi a desco­berta do chamado fator Rh. Quando pre­sente, diz-se que o sangue possui fator Rh positivo. Quando ausente, o fator Rh é ne­gativo. A herança do Rh positivo do pai, recebida pelo feto cuja mãe tem Rh negativo, pode ocasionar no filho doenças graves como a icterícia e mesmo lesões cerebrais.
A ajuda das máquinas                                                    
Além de bem informado pela fisiologia, farmacologia e imunologia, o médico cem seu trabalho facilitado pelos instrumentos que o progresso tecnológico lhe proporciona. Os mais importantes são a máquina coração-pulmão, os aparelhos de radiologia, a bomba de cobalto.
A máquina coração-pulmão é um conjun­to de máquinas extracorpóreas que bom­beiam o sangue (função do coração), oxi­genando-o (função pulmonar) durante as intervenções cirúrgicas que comprometem a atividade desses dois órgãos. No Brasil já se fabricam essas máquinas, inclusive para exportação.
Pelo emprego do coração-pulmão torna­ram-se exequíveis as trocas de válvulas car­díacas (por outras de material plástico) e os transplantes cardíacos.
A radiologia é definida como a parte da medicina que diagnostica ou indica o trata­mento de alterações do organismo, pelo em­prego dos raios X. Existem três espécies de exame radiológico: a radiografia (fotografia de determinada região interna), a radioscofia (visualização do órgão em pleno funciona­mento) e a flanigrafia (visão dos órgãos por planos). Se o exame radiológico tem como objeto as artérias, é a arteriografia; os vasos, a angiografia; o rim, a uro grafia; a vesícula, a colangiografia.
O comportamento do coração pode ser ve­rificado pelo registro gráfico das correntes elétricas nele geradas. Esse registro constitui a eletrocardiografia. No caso do cérebro, temos a eletroencefalografia.
A bomba de cobalto destina-se ao trata­mento do câncer, por aplicações de radiações de cobalto nas regiões ou órgãos cancerízados. A  técnica  surte  efeito  de  acordo  com  a
maior ou menor sensibilidade do próprio tumor, ou do estado de evolução em que o tumor se encontra.
A mais recente aquisição da medicina é o raio laser, raio luminoso monocromático — formado por luz de um só comprimento de onda — de grande intensidade — porque transporta grande quantidade de energia a uma área diminuta. Suas aplicações restrin-gem-sè, por enquanto, à oftalmologia (ramo da medicina que se ocupa das doenças dos olhos), em operações como a do descola­mento da retina.
As práticas
Todas as conquistas das ciências médicas fluem para dois canais: a clínica e a cirur­gia. A medicina clínica apresenta várias especialidades, dentre as quais:
Pediatria — referente às enfermidades das crianças;
Tisiologia — referente às enfermidades pulmonares,   principalmente   a   tuberculose;
Cardiologia — referente às enfermidades do coração em geral, e às do aparelho cir­culatório;
Otorrinolaringologia — referente às' enfer­midades dos ouvidos, nariz e garganta;
Oftalmologia — referente às enfermidades dos olhos;
Ortopedia — referente às deformidades ósseas e sua correção;
Dermatologia — referente às doenças da pele;
Psiquiatria — referente às doenças mentais;
Neurologia — referente às doenças do sistema nervoso;
Ginecologia — referente às doenças ex­clusivamente femininas;
Urologia — referente às doenças urinárias;
Endocrinologia — referente ao funciona­mento das glândulas e suas doenças;
Gastrologia   —   referente   às   doenças   do estômago.
A medicina cirúrgica, método cruento de tratar as moléstias, apresenta as mesmas di­visões,              
Acrescidas ainda de subdivisões.
Enciclopédia Conhecer abril

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