28.11.10

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Historia da roda e do carro
DOCUMENTÁRIO N. 135
Todo meio de transporte, desde a invenção da primeira roda rudimentar até à perfeição dos vários tipos de carruagens, apresenta aspectos particulares de vida: alguns são de caráter bélico, outros se enquadram em moldura suavemente romântica, mas, todos, representam uma evolução rumo ao pro­gresso e à velocidade.

Em épocas antiquíssimas, a roda, parte essencial de todo meio de transporte em terreno normal, já era conhecida; contudo, há poucos séculos ainda, quando os Europeus vieram colonizar as terras americanas, as populações indígenas, como os Astecas, sob outros aspectos mui civilizados, igno­ravam o uso e as vantagens da roda. No Ocidente, todavia, é mais que sabido que os Assírios e os Egípcios tinham já uma ideia daquilo  que. poderia  ser um  carro.
Como nasceram o carro e a roda? Provavelmente, a inspiração do eixo, com duas rodas em suas extremidades, foi oferecida pelo tronco de madeira usado como rolo para transporte de cargas pesadas. Ao consumar-se no meio, ele deixou subsistir somente dois discos, em suas extremidades, e é bem verossímil que as primeiras rodas tenham sido justa­mente esses discos, separados do tronco e fixados firmemente por meio de cunhas de madeiras. Dessa maneira, tivemos a primeira noção da roda independente do tronco. A ideia de aliviar o peso de tais discos por meio de furos praticados em sua espessura pode ter levado ao resultado das rodas com raios, que entraram em uso real e próprio quando foram descobertos os metais. Ao eixo foi sobreposto um caixão e, se um só eixo não era suficiente à estabilidade do conjunto, nada impedia que se lhe acrescentasse um segundo. É uma hipótese engenhosa e digna de fé, esta, para justificar o nascimento da roda e do carro, já conhecidos na Ásia ante­rior ao fim  do  IV milénio antes de  Cristo.
As modernas rodas de madeira são constituídas de um cubo central, de raios nele encaixados e que, na extremidade oposta, são encaixados também no aro da roda, que pode ainda ser formado de mais segmentos ou de um só aro, curvo; aplicado a quente, encerra todas as partes e solidi­fica o conjunto. As rodas de madeira, atualmente, são usadas apenas para carros de tração animal: carros, carretas e carrinhos puxados por  animais.
Os veículos velozes e possantes possuem rodas, total ou parcialmente, metálicas. Nas locomotivas, as rodas são de vários formatos ou tipos, conforme se destinem para sus­tentar ou puxar o comboio. As rodas de uma só peça são pouco usadas, pois não permitem o câmbio do aro; geral­mente, o cubo e o centro constituem um corpo único em forma de disco (roda de disco) ou de estrela (roda em estrela) ao qual é aplicado o aro. As mais difundidas são as rodas em estrela, que não impedem o acesso a órgãos internos da locomotiva e permitem a troca do aro gasto pelo uso.
O material empregado quase exclusivamente em sua fa­bricação é o aço. Na bicicleta, as rodas, dotadas, de pneumá­ticos ou tubulares, são sempre do tipo com raios; o eixo da roda é fixado ao garfo (cada uma das partes do tear da máquina, em forma de garfo, serve para manter a roda) com dados ou parafusos adequados, que podem ser manobrados mesmo a mão.
As motocicletas, cujas rodas são sempre dotadas de pneumáticos, são invariavelmente do tipo com raios tangen­ciais, ou seja, cruzados entre si. No automóvel, o modelo das rodas mais antigo é aquele de raios de madeira, com cubo e aro metálicos; geralmente, porém, as rodas são inteiramente metálicas, forjadas com lâminas estampadas e sol­dadas, seja de modo a apresentar um disco único, seja para imitar a disposição dos raios. Também para os automóveis são usadas rodas em raios tangentes, e todas as rodas mo­dernas, a respeito deste veículo, são construídas do maneira que possam ser facilmente desmontadas. Para caminhões pesados, são empregadas rodas em disco, de lâminas de aço. Nos aeroplanos, as rodas são substituíveis, substancialmente' semelhantes  às rodas  de  automóveis.
A princípio, o carro foi empregado somente como instru­mento de guerra; a seguir, seu uso se estendeu também às várias exigências da vida civil, da indústria e da agricultura. Entre os Gregos, ele encontrou enorme emprego para fins bélicos e religiosos, mas foram as populações nómades as primeiras a criar um novo tipo, prático e manejável: os Celtas, por exemplo, dos quais derivou, ao que parece, aos Latinos, o nome "carrus".
Os primeiros carros de quatro rodas são atribuídos aos Frígios; os Citas usavam carros com seis rodas; os Roma­nos, segundo o número de cavalos atrelados, os denominavam "bigas", "trigas" e "quadrigas". Desde essa época, estava em função um veículo muito leve, aberto na frente, chamado "carrus", de que se serviam para as corridas, durante os ludos. Existiam, além disso, outros tipos de transporte: o "cisium", de duas rodas, descoberto; a "carruca", dos ma­gistrados ; o "pilentum", próprio das matronas romanas; a "benna", de vime, em forma de enorme cesto, onde podiam caber diversas pessoas; a "arcera", que era uma liteira e servia para o transporte dos inválidos ou doentes; o "earro--trabuco", assim chamado porque transportava um enorme e poderoso trabuco (besta), que se carregava com um cabres­tante e servia para atirar, a distância, pedras, traves ferradas e outros projêteis contra as muralhas de cidades ou de forta­lezas.
Outros carros, denominados segundo o número de suas rodas ou da variedade das formas, são: o "pert<yitum", o "rheda" e o "carro foiceado", fechado por três lados, com rodas e flancos armados de foices. Um carro puramente italiano   foi   o   "plaustrum",   semelhante   àqueles   usados   nas corridas de trote (aranha). O "carrus" mais leve foi conhecido pelos Romanos desde os tempos da República. Os tipos mais elegantes, usados para o transporte de altos personagens, eram o "vehiculum", o "vehiculum tectum" (coberto) e o "carpen-tum", um coche elegante que, na era imperial, tornou-se tão rico e luxuoso que chegou a provocar éditos limitando-lhe o uso.
Destruído o Império Romano, à decadência das estradas se juntou a despreocupação na construção de carruagens. Depois do século X, nasceu e difundiu-se, nas cidades da Itália setentrional, a instituição do "carroccio", cuja invenção é atribuída ao valente arcebispo de Milão, Ariberto d'Intimiano. Tratava-se de um carro sacro e militar, empregado nas guerras da Idade Média. Era de quatro rodas, revestidas de ferro, tendo ao centro uma torre ou um grande tronco, encimados por uma cruz, o estandarte da cidade e um sino, denominado "La Martinella", para transmitir sinais. Ao centro do carro, encontrava-se uma estátua de Cristo, em tamanho natural, e, na outra extremidade, um altar, perto da qual um sacerdote celebrava os sagrados ritos. Era pu­xado por doze pares de cândidas vitelas e podia conter cerca de cinquenta pessoas, entre elas, doze armígeros, que o defendiam, e outros tantos corneteiros, que tocavam durante a marcha ou em combate.
No século XIII, reapareceram os carros como meio de transporte; sobre uma elegantíssima carreta, recoberta de uma bandeira de veludo azul, bordados com lírios dourados, fez seu ingresso triunfal em Nápoles, Beatriz, esposa de Carlos de Anjou. Os Milaneses construíram a primeira sege para as núpcias de seu Senhor, que pertencia à casa dos Visconti. Acredita-se que a carruagem propriamente dita tenha sido inventada na Hungria, cerca do ano 1457, na cidade de Kotze, de cujo nome derivou, mais tarde, a palavra "coche", largamente usada em França e depois estendida a países limítrofes, para indicar tal veículo.
Contudo, antes do século XV, o tipo usado nessa época, esse luxuoso meio de transporte, se tornou comum especial­mente na Itália setentrional e na Áustria. A esposa de Galeazzo, Maria Sforza, podia dispor de doze carruagens em suas bem fornidas cocheiras.    Não se podiam ainda denominar caleças, como as entendemos no sentido moderno, tais caixas mais ou menos elegantes, bem acabadas e adornadas, presas diretamente ao eixo das rodas. Eram muito incó­modas, porque qualquer choque ou solavanco repercutiam na caixa e, consequentemente, nos músculos dos viajantes que, depois de uma longa viagem, deviam sentir-se bem doloridos e machucados.
Com o advento da caleche real e própria, o uso de tal veículo se difundiu também na Espanha, em redor do ano 1550, e, na Inglaterra, não antes de 1580. Na Itália, as marquesas de Massa, que moravam em Florença, no palácio Dei Pazzi, foram as primeiras a empregar o coche, em 1534. Desde esse tempo, aos invés de pousar nos eixos, a caixa ali ficou suspensa mediante um sistema de correntes e cor­reias de couro, que favoreciam o bamboleio, atenuando toda sorte de choques.
Sempre em 1534, foi aberta, em Ferrara, a primeira fábrica de carros, O crescente emprego destes cómodos meios de transporte deu origem a verdadeiras competições de luxo e, para conter seus abusos, se tornou necessário expedir leis severas.
No século XVII, foram introduzidas, em Paris, as car­ruagens públicas, cujo ponto de estacionamento estava situado no Hotel de Saint-Fiacre, de que se originou o nome de "fiacre", dado aos carros que tinham quatro ou seis lugares.
Em 1662, fizeram sua aparição, na mesma cidade, os ônibus, que eram uma espécie de carroções, com muitos luga­res, a tração animal, com os quais se efetuava o transporte de pessoas por trechos e tempos indeterminados. Mas a empresa, sem uma causa precisa que a determinasse, faliu bem depressa.
No século XVIII, as condições das estradas melhoraram e, assim, também a burguesia passou a usar carruagens, cuja forma assumiu, então, as características que conservam ainda hoje. O período de máximo esplendor desses veículos se verificou durante os reinados de Luís XV e Luís XVI-Devemos recordar, de fato, a dramática fuga de Maria Antonieta, de Paris, ocorrida numa berlinda real. Àquela época, foi introduzido o uso do "coupé", carruagem senhoril, a cavalos, com quatro rodas, completamente fechada. As damas elegantes começaram a querer segurar as rédeas, mas sem muito êxito, dizem, pois havia uma lei que proibia às mulheres guiar carruagens.
Em 1826, ressurgiram os ônibus, ao passo que um ser­viço regular e célere se desenvolvia entre os vários centros, graças a adequados e capazes carros, as "diligências", cuja direção era confiada a postilhões que, devido à sua auto­ridade e responsabilidade, podiam ser guindados à dignidade de funcionários públicos. Era um veículo coletivo de via­gem, de quatro rodas, dividido em vários compartimentos, com "imperial" ou sem. Por imperial, entendemos a parte superior do veículo, com lugares para viajantes, isto e, aquela espécie de cesto, ou cofre de couro, situado no teto e destinado a guardar malas e bagagens.    Os cavalos, para estarem sempre descansados, eram mudados vários vezes durante a viagem, nos postos estabelecidos. O "Correio" era o ponto prefixado para uma parada e revisão. Nas viagens, mudavam-se as parelhas de cavalos já prontas para o câmbio. Aos varais, eram atrelados duas ou mais parelhas de animais como reserva de energia. Aconte­cia,! com frequência, que salteadores atacavam o comboio, e, por isso, as diligências eram escoltadas por soldados arma­dos, a cavalo. Frequentemente, os bandidos surgiam assim mesmo e travavam-se sérios combates. Entre as diligências assaltadas, pode-se citar a do Gotardo, que atravessava os Alpes e ainda se encontra exposta num museu de Zurique. Os frequentadores de cinema devem estar também bastante familiarizados com os assaltos às diligências, em filmes de Far-West, na época dos pioneiros americanos, na "marcha para o  Oeste".
Mas um temível concorrente já se apresentava ao hori­zonte, nessa quadra; o trem. Quanto à pobre carruagem privada... daí a poucos anos também cederia sua vez ao automóvel. Nem todas as carruagens eram iguais, pois havia tipos diferentissimos: desde o coche, caleça de luxo para fidalgos, até à berlinda, usada pelos monarcas em suas ceri­monias. A berlinda também tinha quatro rodas e vários lugares, recoberta de um fole, com janelinhas fechadas por vidros, na frente e nas portinholas. Foi construída, pela primeira vez, em Berlim, sobre um desenho do piemontês Felipe  de Chiese, para o  eleitor de   Brandeburgo,  Frederico
Guilherme. E célebre igualmente foi a berlinda dos Habs-burgos,  em Viena.
O landau era um espécie de carro com seis lugares, com a caixa suspensa, quatro rodas e duplo fole. Supõe-se que fosse de origem germânica e proviesse exatamente da cidade de Landau, que permaneceu sob o domínio francês até à época da Revolução.
A "Vitória", que lembra o nome da famosa rainha inglesa, foi lançada pelos ingleses no século passado: era descoberta, com quatro rodas e fole posterior. Adaptava-se maravilhosamente às aristocráticas damas da época. Deve­mos lembrar, outrossim, o "cab", carro de duas rodas, no qual  o assento do  cocheiro ficava atrás, ao alto.
É importante conhecer a nomenclatura concernente às várias partes componentes do carro: a parte superior deno­mina-se "caixa"; a inferior "trem", e é constituída de um ou dois pares de rodas em cujo centro os cubos estão presos ao "eixo". Existe, além disso, um timão, que é representado pelos varais e ao qual são atados os cavalos, e um "estribo", onde se põe o pé para subir na caixa, recoberta pelo fole (posterior) e contrafole (anterior). 0 cocheiro permanece na boleia e toda a caixa se apoia sobre "molas", que amor­tecem os solavancos provocados pelos eventuais acidentes do terreno. O "breque", enfim, é um engenho especial, que serve para frear as  rodas.
Enc. Conhecer
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