28.11.10

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Alfredo Nobel


Documentário numero 128

Nos primeiros anos do século XIX, Estocolmo era uma cidade silenciosa, não muito grande, habitada, na maior parte, por abastados comerciantes suecos e norue­gueses, que dominavam todo o movimento de permutas comerciais entre a Europa do Norte e a Rússia.'
Era uma cidade quê se ia estendendo progressiva­mente, enquanto as primeiras indústrias surgiam no limiar dos vastos bosques, e nos estaleiros trabalhava-se àlacremente em torno das "modernas" construções navais.
Justamente neste período de evolução e de desenvol­vimento   nascia,   em   21   de outubro   de    1833,   Alfredo Nobel.
O pai, um engenheiro muito estimado pela sua viva inteligência e empre­endimento, dedicara-se, des­de vários anos, ao estudo de explosivos, de sua composi­ção química e seus efeitos. E, entre outras coisas, conseguira fabricar o primeiro tipo de uma "mina subma­rina", um engenho de guer­ra sobre o qual já haviam posto os olhos diversas na­ções a fim de se apropriarem da invenção.
Alfredo ainda era muito criança quado a Rússia ofereceu a seu pai a possibilidade de transfe­rir-se para São Petersburgo, a fim de ali construir um estabelecimento para a produção, em grande estilo, de minas.
Era o destino de Alfredo Nóbel: nascer, crescer e viver entre explosivos de toda espécie! E era natural que, ao tornar-se adulto, se dedicasse ao estudo desta matéria.
Iniciados os estudos em Estocolmo, precisou prosse­gui-los em São Petersburgo, quando o pai resolveu trans­ferir-se para lá mas concluiu-os nos Estados Unidos, aonde fora enviado, para aperfeiçoar-se em engenharia mecânica.
A profunda genealidade de Alfredo não demorou muito em revelar-se. Guiado pela experiência e pelo amor pa­terno e iniciados os estudos nessa particular matéria, que parecia ser uma tradição na família Nóbel, bem cedo o rapaz teve seu nome no noticiário dos jornais e revistas especializadas, devido a algumas invenções nos vários campos da mecânica. Não alcançara ainda os vinte anos, quando tirou uma patente para um gasómetro especial e um. novo tipo de medidor de água.   Infelizmente, um riste período estava por chegar para os Nobel. Cessa­das as guerras que haviam atormentado as primeiras décadas do século, desaparecidas as exigências de caráter militar, que haviam induzido a Rússia a chamar para junto de si o inventor sueco, a própria Rússia deci­diu suspender a fabricação de minas submarinas e fe­char o estabelecimento. Não lhes restava outra coisa se­não retornar à Suécia e pros­seguir, na sua pátria, as expe­riências. Alfredo, com o pai e o irmão, resolveu tentar a fabricação da "nitroglicerina", coisa que ninguém até então conseguira, devido aos sérios perigos existentes no fabrico da mesma. Tratava-se, realmente, de um explo­sivo sensibílíssimo, estudado pouco antes pelo químico italiano Ascânio Sobrero (1812-1888), autor da apli­cação na dinamite na agri­cultura.
Parecia que o êxito já sor­risse aos arrojados invento­res, quando uma grave desgraça levou o luto à família Nóbel. A imprudência de alguns operários, que traba­lhavam no estabelecimento recém-criado, provocou uma terrível explosão, que fez voar pelos ares toda a fábrica, matando vários homens, entre os quais o irmão de Alfredo.
Este foi o momento mais crítico, tanto do ponto de vista moral como económico, para o jovem cientista. Sozinho, sem qualquer auxílio, sem dinheiro, Nobel foi obrigado, para poder prosseguir nos estudos, a alugar um barco e a transformá-lo em laboratório, recomeçan­do, com fé e coragem, as experiências sobre a nítro-glicerina. Seu primeiro sucesso foi a abertura de uma fábrica, na Alemanha, seguida bem depressa por outra, na Suécia.
Mas o atormentava incessantemente o grave perigo latente, nesse tipo de explosivo tão sensível. Foi assim que lhe veio a ideia de misturar a nitroglicerina com uma substância bastante absorvente e inerte. Nascia, assim, graças a Alfredo Nobcl, a dinamite, muito mais segura no emprego do que a nitro glicerina, explo­sivo que seria empregado, no futuro, tanto para fins bélicos como pacíficos. A natente tem a data de 10 de setembro de 1867.
A descoberta põe em polvorosa o inundo todo, porque se viu logo que vantagens importantíssimas a dinamite trazia consigo. Especialmente para a construção de túneis, galerias, trabalhos nas minas, a dinamite se reve­lou apta a resolver os mais difíceis problemas.
Para poder satisfazer a todas as encomendas que lhe chegavam de todos os recantos do mundo, Nobel preci­sou construir mais fábricas, na Europa. Mas o sucesso não o desviou dos estudos nem das experiências; acres­centando aos explosivos obtidos outros materiais, con­segue fabricar novos tipos de explosivos, como a "dinamite gelatina" c a "balistite", cuja patente foi cedida ao governo italiano,  após  haver o  franpès  recusado.
Este último fato, > aparentemente sem importância, marca, ao invés, o início de uma série de acontecimentos que revolucionariam a vida de Nóbel. Justamente quan­do suas descobertas principiam a proporcionar-lhe lucros cada vez mais altos, até, torná-lo um dos homens mais ricos de seu tempo, uma campanha hostil é iniciada, em França, contra o inventor.
Os jornais, os políticos, os meios industriais e comer­ciais atribuem a Nóbel a responsabilidade dos horrores de uma nova guerra, fingindo olvidar as maravilhosas obras que a dinamite e outros explosivos, inventados pelo cientista sueco, haviam tornado possível, quando empre­gados em obras pacíficas. Fingiam ignorar que Nóbel trabalhara para a ciência e não para a guerra e se esque­ciam de que ele mesmo, embora iludido, esperara con­seguir, com sua obra e seu génio, afastar o perigo de novos conflitos.
Como teria sido possível executar trabalhos do porte da perfuração do monte Sempíone, da galeria do Go-tardo, o primeiro com 20 quilómetros de comprimento e o segundo eom 15, sem a dinamite?
Em 1891, Nóbel encontra-se em Paris. Certa manhã, ao abrir o jornal, lê, estarrecido, a notícia de sua morte, em grandes manchetes. Tinha sido, evidentemente, uma notícia falsa do começo ao fim, porem, o que mais o choca e o inunda de amargor é assistir ao coro unânime dos ásperos comentários da imprensa francesa. Houve quem chegasse a defini-lo "génio maléfico", outros o chamavam de "autodidata da destruição"; quase com uma sensação de alívio, todos afirmavam: "finalmente desapareceu do mundo civilizado um homem que trans­correu sua vida a fim de encorajar a humanidade para a guerra  e chegar a destruí-la".
Nobel, ante uma tão injusta difamação, resolve aban­donar imediatamente a  França e estabelece residência em São Remo, onde continua seus estudos, realizando novas descobertas, mesmo em outros setores da química e da física. A ação de seus inimigos, porém, ferira-lhe a alma de tal modo que sua saúde ficou abalada.
Em 1895, após ter dedicado toda sua existência ao progresso da ciência, percebe que, cm redor de si, criara-se uma atmosfera de aversão e de injusta incom­preensão. Ele faz testamento e resolve fundar, com sua imensa riqueza, uma instituição que se tornaria univer­salmente famosa, sob o nome de "Prémio Nobel". To­mara tal resolução, ao que parece, para afastar, com a admiração da posteridade, o ódio que seus contempo­râneos nutriam contra ele. No ar.o seguinte, em 1896, Alfredo Nóbel, entre o desencadear das polemicas sobre sua pessoa, as quais pareciam não ter fim, entrega a alma ao Criador, em São Remo.
Dele permanecem as grandes descobertas e invenções, sua vida de cientista e estudioso, o exemplo de uma personalidade forte e corajosa e, afinal, a instituição por ele almejada, com toda a sua riqueza.
Trata-se de cinco prémios a serem distribuídos todos os anos, sem distinção de nacionalidade, para a mais importante descoberta no campo da física, da química e da medicina; para a obra literária que mais se distin­guiu por suas tendências e ideais elevados e para quem mais e melhor trabalhou pela confraternização dos povos, pela supressão dos exércitos permanentes, numa pala­vra, pela paz! O prémio é concretizado numa espécie de diploma simbólico e numa importância em dinheiro, proveniente da renda de 40.000.000 de coroas, dividida em cinco partes iguais, de modo a permitir que o pre­miado possa viver o resto de seus dias sem preocupa­ções de ordem económica.
A distribuição dos prémios é feita por diversas insti­tuições; o da física e química, pela Real Academia Sueca de Ciências; o de medicina e Tisiologia, pelo Insti­tuto  Médico-Cirúrgico  de  Estocolmo;   o  de literatura, pela Academia de Letras de Estocolmo e, finalmente, o da paz, por uma comissão composta de cinco membros do parlamento sueco.
O Prémio Nobel sempre foi conferido, no passado, a grandes homens, realmente beneméritos da Humanidade, nos vários setores das atividades humanas. Muitas vezes precederam e deram celebridade a personagens que a opinião pública ainda não consagrara, mas, de qualquer forma, é o mais ambicionado prémio pelos cientistas,   literatos   e   políticos,
Percorrendo a lista dos 51 ganhadores do prémio mais famoso do mundo, verifica-se que somente 18 países tive­ram a glória. de ver um ou mais de seus filhos, receberem essa consagração literária. São eles, por ordem decres­cente do número de escritores premiados: França (8), In­glaterra (6), Alemanha (5), Estados Unidos(5), Suécia (4), Dinamarca (3), Espanha (3), Itália( 3), Noruega (3) Polônia (2), Suíça (2), Bélgica (1), Chile (1), Finlàndia( 1), índia (1), Irlanda (1), Islândia (1) e União Soviética (1).
A França, país que apresenta o maior contingente de ganhadores, está representada por: René F.A. Sully Prudhomme (1901), Frédéric Mistral (1904), Romain Rolland (1915), Anatole France (1921), Henri Bergson (1927), Roger Martin du Gard (1937), André Gide 1947) e Fran-çois Mauriac (1952). Os seis ingleses contemplados fo­ram: Rudyard Kipling (1907), George Bernard Shaw (1923), /ohn Galsworthy (1932), Thomas Stearns Eliot (1948) e Sir Winston Churchill (1953). Alemanha e Es­tados Unidos, ambos com cinco premiados, estão repre­sentados respectivamente por: Theodor Mommsen (1902), Rudolf Eucken (1908), Paul von Heyse (1910), Gerhart Hauptmann (1912) e Thomas Mann (1929), e - norte--americanos: — Sinclair Lewis (1930), Eugene O'NeÍll (1936), Pearl S. Buck (1938), William Faulkner (1949) e Ernest Hemingway (1954). Os quatros ganhadores suecos foram: Selma Lagerlof (1909), Vcrner von Heidenstam (1916), Erik A. Karlfeldt (1931) e Par Lagerkvist (1951). A seguir, com três ganhadores, a Dinamarca: Karl Gjlle-rup e Henrik Pontoppidan (1917) e Joannes V. Jensen (1944). A Espanha: José Echegaray (1904), Jacinto Benavente (1922) c Juan Ramón Jimenez (1956). A Itália: Giusuè Carducci (1904), Grazia Delleda (1926) e Luigi Pirandello (1934). A Noruega: Bjorns-tjerne Bjornson (1903), Knut Hamsun (1920) e Sigrid Undset (1928), Os dois ganhadores poloneses foram: Henrik Sienkícwicz (1905), e Wladyslaw Reymont (1924). Os suíços foram: Karl Spitteier (1919) e Hermann Hesse (1946). Os restantes países, com um vencedor cada, são a Bélgica (Maurice Maeterlinck, cm 1911), o Chile (Gabriela Mistral, em 1945), a Finlândia (Frans Eemíl Sillanpaa, em 1939), & índia (Rabindranath Tagorc, em 1913), A Irlanda (William B. Yeats, em 1923), a Is­lândia (Halldor Kil{an Laxness, em 1955) e a União So­viética (Ivã G.  Bunin, em  1933).
Gabriela Mistral, falecida em janeiro de 1957, foi a única representante da América do Sul que recebeu o ambicioso prémio até hoje. Existe, no momento, uma forte campanha, não só em nosso país mas também em outros do continente sul-americano, para lançar a can­didatura do Marechal Cândido Mariano Rondom ao Prémio Nobel. E cremos que ninguém mais do que o grande sertanista, o benemérito protetor dos índios, o bravo desbravador dos sertões brasileiros, esteja à altura de tamanha honraria. Seria um prémio altamente mere­cido a quem tanto fez pelo tratamento humano aos nossos irmãos das selvas.

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