4.3.09

Historia da Habitaçao

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DOCUMENTÁRIO N.° 235 enc. conhecer abril

O Homem já havia surgido na terra fazia muito tempo quando resolveu eleger para sua morada as cavernas e as grutas. Vagamundo, nómade, dedicado exclusivamente à caça, até então ele vivera sem residência fixa, ou, talvez, procurara abrigo contra os perigos da noite sobre os ramos das árvores, c protegera-se dos rigores hibernais, com frágeis tetos e pára-ventos hemísféricos de galhos e arbustos. Os nossos antiquíssimos progenitores passaram a habitar as cavernas somente quando ao perpétuo vaga­bundear preferiram uma vida seminômade, isto é, no período paleolítico. As grutas de Le Monstier e do Observatório do Principado de Mónaco, aquelas dos Pi-reneus. das Dordonhas e da Bélgica, que remontam ao paleolítico, demonstraram que os primeiros trogloditas não trataram de enfeitar seus antros, mas apenas se preo­cuparam que estes, devido à situação elevada e à proxi­midade dos cursos de água, lhes garantissem suficiente defesa dessas moradas contra os perigos. Único vestígio humano de arquitetura e do arranjo dessas moradas na­turais, era, quando muito, uma pedra para tapar a entrada e machados de sílex; raríssimo o vasilhame de argila. As habitações trogloc)íticas tornaram-se muito difusas no período neolítico (permanecem como impor­tante documentação na Argélia, Tunísia, Itália, Espanha, França e Suíça) c, cm algumas localidades, perduraram também na idade do bronze (Aurisína, em Vai Rosan-dra, Caverna de Zachito, perto de Salerno). As grutas habitadas em épocas mais recentes demonstram o es­forço do homem em enfeitar o ambiente natural e às vezes embelezar as paredes, esforço evidente também na mais rica produção de vasilhame, com grafito, e notá­vel sensibilidade artística e decorado segundo um gosto geométrico ou, ao contrário, conforme um vivo amor pela realidade.


PALAFITAS
As primeiras verdadeiras habitações erigidas pelo. Ho­mem remontam aos últimos anos do neolítico, e tiveram, sobretudo, difusão nas idades posteriores e permanece­ram em algumas localidades (por exemplo, na Trácia) até épocas muito adiantadas. Elas coincidem com a adaptação do Homem à vida sedentária, organizada socialmente em aldeias e dedicada à agricultura e à criação de animais domésticos; trata-se de grupos de cabanas de madeira, quadrangulares e de um único vão, erigidas e dispostas, ordinariamente, sobre plataformas apoiadas em palafitas, nos leitos dos rios e dos laicos. Os restos dessas "cidades lacustres", encontrados na Suíça, no lago de Zurique, em França, na Itália (impor­tantes, acima de tudo, aquelas do lago de Varese), na Inglaterra, nas proximidades do Tamisa e na Escócia, revelam que o Homem, na construção das palafitas, passou através de sucessivas experiências ate chegar a uma relativa habilidade, que lhe permitisse não só eri­gir sua casa em águas profundas e distante da margem, mas também construir bacias artificiais (como resulta de descobertas feitas nos arredores de Parma). Cada ca­bana tinha duas saídas: uma permitindo chegar à plata­forma, ligada à margem, e a outra comunicante com a
água, e que era usada para descarga de lixo ou que servia ao chefe da família para poder pescar mais como­damente. Estas habitações lacustres correspondiam ao precípuo obietivo de evitar os perigos da vida na terra firme: eram moradas e, ao mesmo tempo, fortalezas ou seguras defesas tanto contra o homem como contra as feras.

CONSTRUÇÕES MEGALÍTICAS
Contemporâneas das palafitas e igualmente desatavia­das, eram as habitações que o Homem construiu em terreno firme, seja por falta de correntes de água, seja porque, com o decorrer do tempo, as armas mais aper­feiçoadas lhe permitiam afrontar os perigos. Ele erigiu: a princípio, cabanas circulares e angustas, cónicas ou com o teto chato ou em declive, compostas de pequenos troncos e barro amassado com palha (pau a pique) e, algumas vezes ele as edificou enfossadas no chão (os chamados baixios de choupana); em seguida, tornou-se frequente o emprego da pedra. Às primeiras constru­ções megalíticas pertencem as casas do Auvergne, orga­nizadas em aldeias e os "weems" da Escócia, semelhan­tes às precedentes. Instigado talvez pelo frio, o habi­tante do Auvergne construiu essas casas em um estreito enfossamento artificial, que dava às habitações o curioso aspecto de tocas. A elas se chegava por meio de um estreito atalho, protegido por um pequeno muro rudi­mentar; geralmente de um só vão, mas às vezes, tam­bém, com dois, elas não tinham outra abertura senão a porta, baixa e estreita, e, enquanto a largura atingia,; por vezes seis metros, as paredes não ultrapassavam, nunca, a altura de um homem. No interior, pedras planas e polidas serviam de cama e cadeira e, quando havia duas divisões, a primeira era destinada a cozinha e, a segunda, para lugar de repouso. Sempre presente, também, estava uma rústica lareira e uma pequena fossa ao centro do cómodo, para eliminar a infiltração das águas.
Mas não se julgue que tais melhoramentos, efetuados nas construções das habitações, se tenham desenvolvido contemporaneamente em todas as localidades: em certos lugares, situados no litoral, por exemplo (e foram encon­trados vestígios disso tanto no mar do Norte como no Mediterrâneo), alguns agrupamentos de pescadores con­tinuaram por muito tempo a construir frágeis choupanas de forma cónica, revestidas de galhos e de peles de ani­mais marinhos; analogamente, em outras regiões silves­tres, preferiam, geralmente, utilizar madeira em lugar da pedra, e construíram-se, sempre para fins defensivos, rústicas cabanas, sobre altas paliçadas ou sobre bases de pedras misturadas com argila.
Com o advento da arquitetura megalítica, as habitações sempre mais se diferenciaram, de região em região, pelo número de cómodos, forma da planta (esta, aliás, quase sempre retangular), sistema de cobertura( achatada ou em forma de cúpula, bem rudimentar, extraída da super­posição de pedras e lajes) e orientação, de tal modo que aqui se torna impossível fazer a descrição detalhada de cada uma; constate-se, todavia, que a habitação comum, por muitos séculos, melhorou um pouco o rude aspecto notado nas primeiras construções megalíticas ora descri­tas, talvez porque, mais do que na habitação privada, os arquitetos volveram sua atenção para as fortificações, das quais ainda se voem restos na Holanda, Suíça, Alemanha, Portugal e até nas margens do Mississipi. Desde a época intermediária entre a Pré-História e a História, podemos citar os "nuragues', descobertos na Sardenha, os quais talvez não foram habitações permanentes mas moradas provisórias e fortificadas, usadas somente em caso de guerra. Elas surgiram no período neolítico e foram usa­das durante toda a Idade do Bronze até à Idade do Ferro e nem foram abandonadas em plena idade histórica, pois as recentes descobertas arqueológicas demonstraram que alguns destes centros "nurágícos" foram ampliados com o acréscimo de novas habitações, ainda na época das inva­sões romanas. Os "nuraeues" sardos devem ser conside-
rados entre as mais interessantes construções megalíticas da bacia mediterrânea e deles ainda permanecem, na Sardenha, restos imponentes e quase intactos. Além dos importantes aglomerados nurágicos do Barumini e Torralha, contam-se, na verdade, cerca de quatro mil nuragues espalhados por toda a ilha, geralmente isolados e situa­dos em modestas alturas, e sua característica, forma tronco-cónica, os torna inconfundíveis a quem percorra os sugestivos altiplanos da Sardenha. Para que serviam tais construções nurágicas é um fato ainda incerto, e con­trovertidas são as opiniões dos arqueólogos, porque, se a solidez dos muros c a imponência de alguns tipos faz supor que elas eram verdadeiras e reais fortalezas, seu número e outros exemplos de menores dimensões, que hoje foram descobertos mas que se supunha fossem reco­bertos de troncos e ramos, fazem pensar cm habitações de homens civilizados. Da mesma época das construções megalíticas da Sardenha, e muito importantes, são as ruí­nas de uma cidade descoberta na baía de Santonno, no mar Egeu.
Estas habitações, onde morava um povo que ainda não conhecia o ferro mas que era já bastante hábil na agri­cultura, na criação de animais domésticos, na confecção de vasilhame, na tecelagem e na ourivesaria, apresentam formas, destino dos cómodos e estrutura das paredes muito semelhantes àquelas que encontramos nas habitações mais pobres daqueles povos que gravitavam, pelo Mediterrâneo e que, na Idade Média, atingiram um elevado grau de civilização. As paredes das casas de Santorino são de pedra polida, de menor espessura e maior regularidade do que aquelas verificadas nas outras construções mega­líticas, mas reforçadas por troncos, com os interstícios tapados por argila, palha triturada e algas marinhas, ilu­minadas por amplas janelas, provavelmente rebocadas, estas casas nos revelam não só uma construção mural com­plexa e mais próxima do nosso sistema construtivo mas, também, pela serventia de cada cómodo, destinado a um particular, uma organização familiar mais evoluída (não faltam, ali. os armazéns, as estrebarias e o forno para cozer o pão).


AS CASAS EGÍPCIAS
Eis-nos, finalmente, diante de habitações dignas desse nome, tal como nós as entendemos no sentido moderno. Desde 5000 anos A. C, a estirpe camitica dos Egípcios instaurara, às margens do Nilo, uma das civilizações mais esplêndidas e requintadas que jamais apareceram na face do globo, até que, a partir do ano 525 A. C, quando Persas, Gregos e Romanos a invadiram, introduzindo modificações em seus hábitos, o Egito possuiu uma arqui-tetura original, alcançando ótimos resultados não só na construção de monumentos mas também na dos edifícios civis.

Os Egípcios não usaram tijolos cozidos senão depois da conquista romana; até então, a argila crua do Nilo, de tal composição que podia alcançar, quando seca, uma solidez idêntica à terracota, foi, para seus arquitetos, ele­mento primordial para construção de habitações privadas. Se aquelas dos pobres, edificadas com troncos de pal­meiras e argila, enfeitadas por poucos móveis de madeira, e esteiras que serviam ao mesmo tempo de assento e leito, permaneceram, ainda na idade mais fulgurante da civilização egípcia, as estreitas moradas do período pri­mitivo, a classe média de Mènfis e de Tebas habitou um tipo de casa que reproduziu, embora mais modestamente, os palácios dos ricos e dos faraós. Ela possuía planta retangular ou quadrangular, alicerces de- pedra e o resto das paredes de argila. Quase sempre, era de dois anda­res e terminava num terraço; era circundada de altas paredes e precedida de um pequeno jardim. As janelas, estreitas e situadas somente no andar térreo, eram dota­das de persianas e de grades de madeira; as paredes externas e as internas nem sempre verticais, mas propo­sitadamente inclinadas, eram vivazmente decoradas. A vida da família transcorria grande parte do tempo no pátio interno, verdadeiro coração da casa, em torno do qual se dispunham os demais compartimentos: um pe­queno vestíbulo, a cozinha, a despensa, as cocheiras. A um canto do pátio, uma escada pequena e incómoda, entremeada de patamares, conduzia ao primeiro andar, onde ficavam os dormitórios da família. O terraço, escorado por fortes colunetas de madeira, era também usado como quarto dos empregados, mas, quase sempre, prefe­rido pelos familiares para reuniões sociais, à noite. Pe­quenos móveis de madeira, esteiras em cores vivas, decorações de estuque, davam à casa um aspecto alegre e confortável. Bem mais confortáveis eram as casas dos ricos que, se do exterior se distinguiam das outras somente por uma entrada majestosa, com batentes, trapezoidal e enriquecidas daqueles característicos baixos-relevos que se encontram nos monumentos egípcios, ocultavam, porém, em seu interior, verdadeiros tesouros de arte, amplos pá­tios, salas para recepção, numerosos armazéns e um vastíssimo jardim.
As habitações dos antigos Assírios e Babilónios nada tiveram, por certo, de invejar àquelas dos Egípcios e, como estas últimas, também serviram de modelo para as populações semíticas, especialmente os Fenícios, Hebreus e Persas.
Doutro lado, também os Babilónios e os Assírios, como todos os povos semitas, viveram longamente em estado nómade, e, antes de se estabelecerem às margens do Eu-frates e do Tigre — isso está, aliás, comprovado por anti­gas gravações e baixos-relevos — serviam-se de tendas, entre as quais é sobretudo característica aquela assíria, retangular e descoberta, mas dotada -de uma cobertura parcial tipo fole, a fim de proteger seu interior dos raios do sol.

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