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Década de 50, século XX. A Argélia luta por sua independência, tenta livrar-se do domínio francês. Uma ala do Governo francês é a favor das negociações de paz com a colónia. Outra insiste na preservação da Argélia Francesa. Pressionado pela opinião pública internacional e pelo alto custo da guerra, de Gaulle vê-se obrigado a negociar com a Argélia. Com o intuito de impedir que isso aconteça, surge em 1961 uma organização secreta formada por oficiais franceses irredutíveis: a O.A.S. — Organisation de VArmée Secrète. Sabotagens, rebeliões, atentados contra a vida do presidente, tentam tudo. Mas de Gaulle vence. Em 1962, a Argélia torna-se independente. A causa da criação da O.A.S. deixa de existir e o movimento pouco a pouco se extingue.
A O.A.S. é um exemplo típico do agrupamento social chamado "sociedade secreta".
Política, religião ou crime
Desde a Antiguidade, há registro do que hoje é caracterizado como "sociedade secreta". Organizações desse tipo existiram no Oriente — China, Japão, índia — como no mundo clássico de gregos e romanos. E não deixaram de aparecer no Egito, Assíria e Pérsia antigos. Sempre provocaram muitas e ferrenhas controvérsias entre os estudiosos. Houve tempo em que eram identificadas com os mais diversos agrupamentos humanos, bastando que suas atividades escapassem ao domínio público. Aos judeus eram atribuídas "atividades misteriosas". Ordens religiosas eram acusadas de "perigosos exercícios subterrâneos". Mas associações não-oficiais nem sempre constituem de fato sociedades secretas. Muitas vezes são organizações que teriam agido às claras, em tempos normais. A clandestinidade é imposta pelas circunstâncias, é o caso dos cristãos, durante certo período do Império Romano, ou dos protestantes franceses, até o Édito de Nantes.
Entre as verdadeiras sociedades secretas podem-se distinguir três tipos: as de obje-tivo político ou social, as de iniciação e as criminosas. De uma a outra seus membros variavam e variam, de idealistas cheios de generosidade a psicopatas ansiosos por mudanças até absurdas.
As sociedades secretas de objetivos políticos e sociais caracterizam-se principalmente por sua duração limitada. Formam-se para combater determinada situação política ou social vigente e agem na marginalidade; dissimulam suas atividades e o nome de seus membros, mas duram apenas enquanto permanece a causa de sua criação.
As sociedades secretas de iniciação, ao contrário das de objetivo político, não procuram esconder sua existência, suas leis, locais de reuniões e nome dos adeptos. Guardam segredo apenas de suas cerimónias e atividades, vedadas aos "profanos". Os membros identificam-se, em qualquer lugar onde se encontrem, por sinais e toques, senhas que servem como código de reconhecimento,
Em geral, o objetivo das sociedades secretas de iniciação é a elevação do indivíduo a um "estado psíquico superior". Através de complicados rituais, que incluem provas físicas e morais, o iniciado sente que deve "morrer" a fim de "renascer" para uma nova vida. Só uma organização pode "iniciai" o indivíduo, daí a característica de sociedade. Por não ter objetivo imediato, como nas sociedades secretas políticas, sua duração é mais longa. Mas há ocasiões em que uma sociedade de iniciação passa a agir também como sociedade secreta política. Só que não se extingue se o objetivo político é alcançado. Seus membros continuam a reunir-se e realizar rituais. É o caso da maçonaria, sociedade secreta internacional de iniciação, cujos membros influíram na evolução política de vários países.
As de objetivo criminoso também são duráveis, embora os governos se empenhem em eliminá-las. Em nome da organização, seus membros cometem a mais variada sorte de crimes. O principal estatuto das sociedades secretas criminosas é o que obriga seus adeptos a sigilo absoluto sobre a existência da "irmandade" e suas atividades. Aquele que revelar segredos proibidos é sumariamente eliminado. A Máfia, nascida há mais de um século, continua sendo até hoje uma das mais poderosas sociedades secretas do crime.
A união da cruz com a rosa
Esse foi o símbolo adotado pela sociedade dos rosa-cruz: uma cruz vermelha, "pois que foi salpicada pelo místico e divino sangue de Cristo", e uma rosa, "signo de purificação de toda mácula".
A primeira notícia que se tem a respeito dos rosa-cruz data de 1614, quando foram publicados três livros relatando a sua fundação — atribuída ao alemão Christian Ro-scnkreutz (c. 1378-c. 1485) e parte de suas origens, vindas do Oriente. Como sociedade de iniciação secreta, sabe-se apenas que os ritos têm por fim a elevação espiritual.
Na origem, pedreiros
A palavra maçon, na origem francesa, significa pedreiro Qmason, em inglês). A Maçonaria, sociedade secreta de iniciação, nasceu na Inglaterra. Ao que se presume, descende das antigas corporações de ofício medievais, onde os construtores reuniam-se sob uma mesma direção, obedecendo a um regulamento comum. Essas corporações garantiam certa liberdade aos seus membros e respeitavam uma hierarquia: mestre, oficiais e aprendizes. Expandindo-se para a França, foi consolidada na Franco-Maçonaria, que conservou a mesma hierarquia das antigas corporações, absorvendo alguns rituais e crenças dos rosa-cruz. Reunindo-se em lugares chamados "lojas", os maçons realizam cerimonias ritualísticas, próprias às associações secretas de iniciação. Mas muitas vezes a sociedade ultrapassou seu caráter meramente místico para influir decisivamente em movimentos políticos.
É tida como certa a participação da maçonaria nos movimentos que culminaram com a Inconfidência Mineira, até a proclamação da Independência, por D. Pedro I. Após o 7 de Setembro, o imperador foi empossado no posto supremo da Ordem dos Maçons.
Lenhadores carvoeiros
Da reunião de profissionais nasceu também a sociedade secreta dos carbonários. Provavelmente o nome tem sua origem na legendária Sociedade dos Lenhadores ou Carvoeiros, uma espécie de confraria de homens que se tinham retirado da civilização para executar seu trabalho humilde em meio às florestas. Essa sociedade florestal mantinha reuniões ao ar livre, onde realizava cerimónias de "iniciação" e contava com um complicado sistema de misteriosos sinais e senhas de reconhecimento.
Calcada na prática dos lenhadores c outros trabalhadores das florestas c cm alguns rituais da maçonaria, a sociedade dos carbonários foi fundada em Nápoles, em 1814, com a intenção de expulsar os austríacos do solo italiano, derrubar as monarquias protegidas pela Santa Aliança e estabelecer um governo democrático na Itália.
O poderio dos carbonários cresceu e se expandiu com rapidez incrível. Em algumas cidades da Calábria c dos Abrazos, praticamente toda a população masculina foi "iniciada". A Sociedade recrutava adeptos de qualquer profissão e classe social, dando-lhes instrução militar. As faltas cometidas pelos filiados eram julgadas num tribunal secreto.
Em 1820, o movimento expandiu-se para a França, onde trabalhou para derrubar o Governo da Restauração. Com a queda dos Bourbons, a Sociedade perdeu sua razão de existir nesse país. Mas continuou na Itália, onde seus objetivos ainda não tinham sido atingidos. Em 1834, foi absorvida por outro movimento, também secreto, a Jovem Itália, dirigida por Mazzini. A nova organização secreta continuaria o trabalho dos carbonários. Mais tarde, o movimento se estende por outros países europeus, com os mesmos objetivos liberais, sob o nome de Jovem Eitropa.
A dura lei da Máfia
Pressionada pelos exércitos de Napoleão, a corte de Nápoles do século XIX refugiou-se na Sicília. Na época, a ilha estava infestada de salteadores. Não dispondo de forças suficientes para manter a ordem, o soberano tomou a seu serviço algumas quadrilhas, que foram incumbidas do policiamento da ilha. Mais tarde, quando o Governo siciliano quis voltar à administração normal, as quadrilhas estavam tão fortemente organizadas que subsistiram. Não mais a soldo do Governo, os bandoleiros continuaram a agir por conta própria; e o número de componentes aumentava sempre. A extrema miséria que reinava na Sicília facilitava o movimento clandestino. Pertencer a essa classe de revoltados contra a lei e a ordem estabelecida era um fato enobrecido pelos humildes. Assim se formou a Máfia, até hoje uma das mais poderosas organizações secretas do críme. Para assegurar sua sobrevivência, num mundo cuja lei seriam eles próprios, os inafiosos criaram um código rígido, e a desobediência a êle significava pura e simplesmente a morte. Esse código, até hoje observado, chamava-se omertà, que no dialeto sicíiiano significa "conspiração do silêncio". Compreende cinco regras-chave: ajudar um irmão cm dificuldades com todos os meios que estiverem ao alcance; obedecer sem discussão às ordens de um "conselho de irmãos" que lhe seja superior; estar pronto a vingar, a qualquer preço, a ofensa feita por um estranho a um irmão; nunca recorrer à polícia ou à justiça para o reconhecimento de seus direitos, sejam quais forem as circunstâncias; sob pena de morte, jamais confessar a existência da irmandade, nem o nome de um irmão.
Com o início da migração italiana para os Estados Unidos, muitos elementos da organização transferiram-se para esse país. Entre êtes os famosos gangsters Al Capone e Lucky Luciano, Até 1920, o trabalho da Máfia nos Estados Unidos esteve limitado. Com a criação da. Lei Seca, abriu-se novo panorama, com enormes possibilidades para o ganho desonesto. Formaram-se as primeiras quadrilhas, que se desenvolveram e multiplicaram de maneira incrível. Penetraram profundamente na vida económica do país.
Ku Klux Klan: o terror
Com a derrota dos escravocratas na Guerra da Secessão americana, os brancos do Sul dos Estados Unidos viram-se diante de ex-escravos negros que passaram a ter os mesmos direitos políticos. Indignados diante desse Fato, alguns oficiais do exército confederado resolveram fundar em Nashville (Tennessee), em 1865, uma sociedade secreta para lutar contra a influência dos negros nos caminhos da nação: a Ku Klux Klan.
A princípio, a Ku Klux Klan iimitava-se a atemorizar os negros, recorrendo a cavalgadas noturnas à luz de tochas, com vestes e capuzes brancos. Mas em pouco tempo o ataque passou a ser direto: banhos de piche e açoites, linchamentos c assassínios sistemáticos. Com a retirada das tropas federais dos Estados do Sul e a diminuição gradativa dos poderes concedidos aos negros, os brancos reconquistaram sua antiga preponderância económica e social. Desorganizada, a sociedade foi dissolvida pelo General Nathan Bedford Forrest, em 1871. Mas ressurgiu após a Primeira Guerra Mundial; e com mais força.
Em 1916, trinta e quatro homens, liderados pelo pastor metodista William Joseph Simmons, plantaram no alto da montanha que domina a cidade de Atlanta, na Geórgía, uma cruz incandescente. Vestidos de bran co e encapuzados, juraram restaurar a organização. Os métodos continuaram os mesmos, mas agora a fúria estendia-se não só aos negros, mas também a judeus, católicos e imigrantes recentemente instalados no país. Em 1944, o que restava do movimento acabou por se dissolver. Mas em 1960, os problemas surgidos com os direitos civis dos negros fizeram com que o terror voltasse. Embora vigorosamente combatida pelo Governo e pelo Poder Judiciário, a Ku Klux Klan ainda contava, em 1966, cerca de 30 mil adeptos, principalmente na Geórgia, Carolina do Norte, Alabama e Mississipi.
Enc. Conhecer/ abril
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