4.3.09

Medicina moderna

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Medicina moderna

A cápsula entrou em órbita. Daí em diante, até a fase final do vôo, a ve­locidade se manterá altíssima: 28 000 quilómetros horários. O denso silêncio é esporadicamente interrompido pelas radio-comunicações. O piloto tem a impressão de estar imóvel no espaço.
Não há mais força de gravidade. O piloto flutuaria na cabina, caso não estivesse preso ao assento. Tem dificuldade em controlar os movimentos e a voz, porque o ar, também sem peso, não oferece nenhuma resistência. É o estado de gravidade-zero, absolutamente no­vo para o homem. E como o organismo hu­mano estruturou-se para sobreviver em am­bientes cuja força de gravidade é de apro­ximadamente 1 gb, nessas novas condições sofrerá profundas alterações fisiológicas.
Desde o lançamento, o piloto é atingido por vibrações provocadas pela intensidade dos ruídos; perturbações cardiovasculares dolorosas, enormes dificuldades de respira Ção, hemorragias cutâneas, alucinações, con­vulsões, perda dos sentidos, em virtude das acelerações sucessivas de velocidade.
O treinamento pode tornar o piloto mais adaptado. Por outro lado, determinadas dificuldades só serão superadas pelo desenvol­vimento das capacidades fisiológicas do seu organismo. Conhecer as potcncialidades fi­siológicas para colocá-las em ação é tarefa da medicina espacial, o mais novo ramo da medicina. Um dos métodos que emprega é a observação e o registro das atividades dos sistemas orgânicos durante os voos.
A medicina espacial é fruto do enorme desenvolvimento da medicina moderna, que dependeu, em grande parte, da evolução da fisiologia, farmacologia, patologia, e ou­tros setores da pesquisa científica pura ou aplicada. Cada uma dessas divisões fornece aos dois grandes ramos da medicina, a clí­nica e a cirurgia, os meios de conhecimento e de ação.


Irredutivelmente
A fisiologia (do grego: jthysis — nature­za; logos = ciência) estuda a estrutura e o funcionamento dos órgãos sadios ou doen­tes (fisiopatologia). E a moderna fi­siologia procura conhecer o funcionamento dos órgãos, a partir do conhecimento das funções da célula, componente fundamental dos órgãos. Para tanto, concorrem técnicas

Com a microscopia eletrônica, ou seja: a observação de estruturas infra microscópicas da célula, possibilitada pelo microscópio ele-trôníco, capaz de ampliar 250 000 vezes — o microscópio comum amplia no máximo 2-3 000 vezes —, porque utiliza feixes de eletrons em lugar de raios de luz.
Usufruindo dessa e de outras conquistas científicas e tecnológicas, a fisiologia cami­nhou a largos passos. O diagnóstico e trata­mento das perturbações orgânicas avança­ram no mesmo ritmo.

Que remédio?
O conhecimento dos órgãos já é meio ca­minho andado para a prevenção, o reconhe­cimento e a cura das doenças que os afetam. Uma das formas de tratamento é a admi­nistração de drogas (quimioterapia), que implica o estudo da natureza, composição e ação dessas drogas. Esse é o objeto da far­macologia (do grego: pharmacon ~ droga; lagos — ciência). Suas descobertas possibi­litaram ao homem a erradicação, ou pelo menos o controle, de doenças que há muito vinham causando devastações a toda a hu­manidade

Gerhard Domagk desencadeou o processo de combate a moléstias infecciosas, ao des­cobrir o frontosil vermelho (droga para curar as infecções causadas por bactérias). Seguiram-se as sulfanilamidas ou sulfas (de­signações correntes de para-aminobenzeno-sulfonamida, substância que toma o lugar do ácido para-aminobenzóico existente no or­ganismo, à falta do qual algumas bactérias degeneram e sucumbem diante das defesas orgânicas).
Outra importante contribuição ao trata­mento das infecções por bactérias foi intro­duzida em 1938, com a descoberta dos an­tibióticos: substâncias químicas produzidas por microrganismos, capazes de inibir a pro­liferação (ação bactericida). Sua ação é, portanto, muito mais radical do que a dos medicamentos anteriores. Na década 1940-1950, a produção de antibióticos se intensi­ficou, aparecendo a penicilina, a estrepto-micina, a cloromicetina, a aureomicina e a terramicina, poderosíssimos antibióticos.
Igualmente importante foi a possibilidade de purificar ou mesmo de sintetizar, em la­boratórios, vários hormônios — substânciasquímicas secretadas pelas glândulas endócri-nas que exercem funções específicas sobre as atividades de outros órgãos. Chegou-se, assim, à solução para várias moléstias: o dia­bete (excesso de açúcar no sangue) pôde ser controlado através de aplicações de insulina (hormônio do pâncreas); a artrite (inflama­ção das articulações) passou a ser tratada com cortisona (hormônio do córtex supra-renal).
Esses hormônios do córtex supra-renal compõem uma categoria especial de medica­mentos: os corticóides. O primeiro a ser sintetizado foi a desoxicorticoesterona, em 1937. Ainda entre 1940 e 1950 foram sinte­tizados outros corticóides: a cortisona, a corticoesterona, a hidrocoartisona, a aldoesterona, etc. Aplicam-se no tratamento das inflamações, alergias e distúrbios metabó­licos em geral.
A farmacologia conquistou também uma margem muito maior de segurança na admi­nistração de anestésicos, eliminando os efei­tos tóxicos para o paciente. Os mais usados são: Thionembuthal e Vluothane, para cirur­gias de duração prolongada; Xilocaína, como anestésico local, para cirurgias mais simples e rápidas.

A reação
Ê melhor prevenir do que remediar. Esse é o objeto da imunologia, que estuda o
mecanismo das reações do corpo humano
das causas que perturbam seu funcionamen­to, como: venenos, toxinas ou micróbios. Essas reações consistem na formação de cer­tas substâncias, (anticorpos) que se opõem a outras (antígenos) introduzidas no sangue. Dessa forma, ao produzir anticorpos contra determinado antígeno, o organismo se arma para enfrentar um provável ataque. Torna-se "imune". Os anticorpos são, portanto, não só agentes de defesa imediata, como tam­bém imunizadores a médio ou longo prazo1. As vacinas provocam no organismo essa reação defensiva. No século XX elaboraram-se várias vacinas: contra difteria, tétano, peste bubônica, varíola, poliomielite, sarampo, etc.
Outra contribuição da imunologia à te­rapia foi a classificação do sangue em tipos, realizada pelo médico austríaco Karl Lands-teíner em 1900, da maior importância ,para . as transfusões.
Os tipos são A, B, AB e O, assim definidos pela ocorrência de certas substâncias nos glóbulos vermelhos.

O tipo AB é, pois, o receptor universal, e o tipo O constitui o doador universal.
A partir desses dados, as transfusões pu­deram ser feitas sem perigo de choque fatal por incompatibilidade sanguínea.
Observação importante, relacionada com a incompatibilidade sanguínea, foi a desco­berta do chamado fator Rh. Quando pre­sente, diz-se que o sangue possui fator Rh positivo. Quando ausente, o fator Rh é ne­gativo. A herança do Rh positivo do pai, recebida pelo feto cuja mãe tem Rh negativo, pode ocasionar no filho doenças graves como a icterícia e mesmo lesões cerebrais.

A ajuda das máquinas
Além de bem informado pela fisiologia, farmacologia e imunologia, o médico cem seu trabalho facilitado pelos instrumentos que o progresso tecnológico lhe proporciona. Os mais importantes são a máquina coração-pulmão, os aparelhos de radiologia, a bomba de cobalto.
A máquina coração-pulmão é um conjun­to de máquinas extracorpóreas que bom­beiam o sangue (função do coração), oxi­genando-o (função pulmonar) durante as intervenções cirúrgicas que comprometem a atividade desses dois órgãos. No Brasil já se fabricam essas máquinas, inclusive para exportação.
Pelo emprego do coração-pulmão torna­ram-se exequíveis as trocas de válvulas car­díacas (por outras de material plástico) e os transplantes cardíacos.
A radiologia é definida como a parte da medicina que diagnostica ou indica o trata­mento de alterações do organismo, pelo em­prego dos raios X. Existem três espécies de exame radiológico: a radiografia (fotografia de determinada região interna), a radioscofia (visualização do órgão em pleno funciona­mento) e a flanigrafia (visão dos órgãos por planos). Se o exame radiológico tem como objeto as artérias, é a arteriografia; os vasos, a angiografia; o rim, a uro grafia; a vesícula, a colangiografia.
O comportamento do coração pode ser ve­rificado pelo registro gráfico das correntes elétricas nele geradas. Esse registro constitui a eletrocardiografia. No caso do cérebro, temos a eletroencefalo grafia.

A bomba de cobalto destina-se ao trata­mento do câncer, por aplicações de radiações de cobalto nas regiões ou órgãos cancerízados. A técnica surte efeito de acordo com a
maior ou menor sensibilidade do próprio tumor, ou do estado de evolução em que o tumor se encontra.
A mais recente aquisição da medicina é o raio laser, raio luminoso monocromático — formado por luz de um só comprimento de onda — de grande intensidade — porque transporta grande quantidade de energia a uma área diminuta. Suas aplicações restrin-gem-sè, por enquanto, à oftalmologia (ramo da medicina que se ocupa das doenças dos olhos), em operações como a do descola­mento da retina.

As práticas
Todas as conquistas das ciências médicas fluem para dois canais: a clínica e a cirur­gia. A medicina clínica apresenta várias especialidades, dentre as quais:
Pediatria — referente às enfermidades das crianças;
Tisiologia — referente às enfermidades pulmonares, principalmente a tuberculose;
Cardiologia — referente às enfermidades do coração em geral, e às do aparelho cir­culatório;
Otorrinolaringologia — referente às' enfer­midades dos ouvidos, nariz e garganta;
Oftalmologia — referente às enfermidades dos olhos;
Ortopedia — referente às deformidades ósseas e sua correção;
Dermatologia — referente às doenças da pele;
Psiquiatria — referente às doenças mentais;
Neurologia — referente às doenças do sistema nervoso;
Ginecologia — referente às doenças ex­clusivamente femininas;
Urologia — referente às doenças urinárias;
Endocrinologia — referente ao funciona­mento das glândulas e suas doenças;
Gastrologia — referente às doenças do estômago.
A medicina cirúrgica, método cruento de tratar as moléstias, apresenta as mesmas di­visões, acrescidas ainda de subdivisões.

Enc. Conhecer/ abril
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